Já é bem conhecido e documentado o fato de que grandes quantidades de plástico entram nos oceanos todos os anos, poluindo as águas, espalhando lixo nas praias e ameaçando a vida selvagem. A poluição de plástico foi encontrada até mesmo nas regiões mais remotas da Terra, como a Antártica ou no partes mais profundas de nossos oceanos.
Entretanto, pouco se sabe sobre os níveis de plástico aninhados no assoalho oceânico e nos sedimentos do fundo do mar nas partes mais profundas do nosso planeta.
Um novo estudo da agência científica nacional da Austrália, conhecida pela sigla CSIRO, publicado na revista Frontiers in Marine Science na segunda-feira (5), lançou alguma luz sobre o problema do plástico, estimando que existem 14 milhões de toneladas métricas de microplásticos no fundo dos oceanos.
Segundo o estudo, isso é mais de 35 vezes mais plástico do que se acredita estar flutuando na superfície.
Os pesquisadores afirmam que o trabalho é a primeira estimativa global de microplásticos (pedaços de plástico que foram desgastados pelos elementos em fragmentos minúsculos, menores que 5 milímetros) no fundo do mar.
Usando um submarino robótico, a equipe coletou amostras de sedimentos do fundo do mar de até 3.000 metros de profundidade de seis locais na Grande Baía Australiana. Os pontos ficavam distantes até 380 quilômetros mar adentro da costa do sul da Austrália.
A análise das 51 amostras colhidas revelou que havia uma média de 1,26 pedaços de microplástico por grama de sedimento. Os pesquisadores dizem que isso é até 25 vezes mais microplásticos do que estudos anteriores em águas profundas – e 35 da superfície.
Líder do estudo, Justine Barrett, do departamento de oceanos e atmosfera do CSIRO, disse em um comunicado que “até mesmo o oceano profundo é suscetível ao problema da poluição do plástico”.
“A poluição do plástico que vai parar nos oceanos se deteriora e se decompõe, terminando na forma de microplásticos”, contou. “Os resultados mostram que os microplásticos estão de fato se empilhando no fundo do oceano.” Os cientistas chamaram o lixo plástico “um dos principais desafios ambientais desta geração”. O problema é uma questão ambiental reconhecida internacionalmente, já que o plástico é uma poluição persistente que prejudica a vida selvagem e o próprio oceano. Há também uma preocupação crescente sobre os riscos potenciais à saúde que ele representa para os humanos.
Mais poluição até 2040
O problema só tende a piorar à medida que a produção de plástico e a poluição aumente nos próximos anos, como é esperado. Um estudo recente sugeriu que, mesmo se começasse um esforço imediato e globalmente coordenado para reduzir o consumo de plástico, ainda haveria cerca de 710 milhões de toneladas métricas poluindo o meio ambiente até 2040.
A doutora Denise Hardesty, cientista-pesquisadora principal e coautora do estudo, disse que o grupo ficou “surpreso ao observar altas cargas de microplásticos em um local tão remoto”.
A pesquisa mostra que o plástico pode se acumular no fundo do mar ao afundar através da coluna de água ou de correntes que transportam microplásticos por desfiladeiros subaquáticos até o assoalho oceânico.
“Nossa pesquisa descobriu que o oceano profundo é um escoadouro de microplásticos. Identificando onde e quanto microplástico existe, temos uma imagem melhor da extensão do problema”.
As amostras foram coletadas em março e abril de 2017 em uma faixa de profundidades que variou entre 1.655 metros a 3.062 metros. Em seguida, os pesquisadores expandiram os dados coletados na costa da Austrália para obter uma estimativa global do peso dos microplásticos nos sedimentos do fundo do mar e chegaram a uma estimativa de 14,4 milhões de toneladas métricas – um valor que eles dizem ser conservador porque o local era remoto e longe dos centros urbanos.
Embora suas descobertas mostrem uma grande quantidade de microplásticos no fundo do mar, os pesquisadores dizem que é uma fração da quantidade total de plástico que é despejado anualmente nos mares do mundo.
Cerca de 150 milhões de toneladas métricas de plástico já estão flutuando em nossos oceanos. E mais oito milhões de toneladas vão parar na água a cada ano, de acordo ao Fórum Econômico Mundial.
Segundo os pesquisadores, a maior parte do plástico despejado no oceano provavelmente acaba nas costas, em vez de na superfície ou no fundo do oceano.
Os resultados mostram que é mais urgente do que nunca encontrar soluções eficazes para parar a poluição do plástico antes que chegue aos oceanos e para reduzir o uso do plástico em geral, de acordo com Hardesty.
“Isso ajudará a informar estratégias de gestão de resíduos e criar mudanças comportamentais e oportunidades para impedir que plásticos e outros resíduos entrem em nosso ambiente”, afirmou a cientista. “O governo, a indústria e a comunidade precisam trabalhar juntos para reduzir significativamente a quantidade de lixo que vemos ao longo de nossas praias e oceanos”.