Uma equipe cearense formada por um biólogo, uma veterinária e um enfermeiro, viaja, nesta terça-feira (6), para o Mato Grosso levando curativos biológicos feitos a partir da pele de tilápia para o tratamento de animais feridos em queimadas no Mato Grosso. Os representantes do Instituto de Apoio ao Queimado (IAQ) também realizam treinamento na equipe que acolhe os bichos em Cuiabá.
São destinadas 130 amostras do material rico em colágeno, que acelera a recuperação da queimadura e diminui as dores por não precisar de trocas constantes.
“O curativo biológico tem uma rica quantidade de colágeno que vai ser ideal para o processo de cicatrização e não tem troca diária de aplicativo, o animal fica com o curativo por 10 a 12 dias. Isso impede a perda de líquidos do animal e a pele da tilápia protege contra infecções”, explica o biólogo e coordenador da equipe, Felipe Rocha.
Entre os animais que serão tratados com o material estão a anta brasileira, o tamanduá bandeira e o veado catingueiro, ameaçados de extinção e afetados pelo fogo que consome a região Pantanal. “Já temos uma noção de que existem 30 animais com possibilidade de aplicação dos curativos. A ideia é que a gente vá, aplique, e a equipe de lá vai fazer todo o manejo e aplicando em mais animais que possam vir a chegar”, destaca.
Os feridos são recebidos pelo Centro de Medicina Veterinária e Pesquisa em Animais Silvestres (Cempas) da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Mato Grosso. A instituição pediu os curativos biológicos na última quinta-feira (1º) como forma de recuperar e dar maior qualidade de vida aos bichos socorridos. A organização Ampara Animal contribui no processo de acolhimento dos animais.
Segundo o Ibama, os incêndios já destruíram 3,461 milhões de hectares no bioma Pantanal, sendo 2,053 milhões de hectares em Mato Grosso e 1,408 milhão de hectares em Mato Grosso do Sul.
Uso da pele de tilápia
A pele da tilápia foi utilizada inicialmente no tratamento de queimados. A técnica para a recuperação desses pacientes desenvolvida pela Universidade Federal do Ceará (UFC) chegou a ser exportada e usada para curar queimaduras de ursos na Califórnia.
Houve êxito na aplicação em cirurgias ginecológicas, técnica idealizada pelo médico Leonardo Bezerra, professor da UFC. No caso mais recente, o material foi usado em um procedimento inédito para reconstrução vaginal de uma mulher transexual, realizado na Unicamp, em Campinas (SP). Já no Ceará, os procedimentos são realizados em parceria com a Maternidade-Escola Assis Chateaubriand (MEAC).
No Ceará, cirurgias de reconstrução vaginal com a membrana do peixe já foram realizadas em mulheres com síndrome de Rokitansky, agenesia vaginal ou câncer pélvico.
Em 2017, pesquisadores da Universidade Federal do Ceará (UFC) inauguraram o primeiro banco de pele de tilápia para uso em tratamentos médicos.
A repercussão positiva dos resultados obtidos com as pesquisas já foram destacadas pelo presidente Jair Bolsonaro e, inclusive, citada em séries de TV norte-americanas como “The Good Doctor” e “Grey’s Anatomy”.