A arte foi o meio escolhido para que alunos de uma escola pública na Paraíba refletissem e retratassem a pandemia de Covid-19. A turma recriou pinturas famosas, posando para fotografias com itens de prevenção à infecção pelo novo coronavírus.
O toque suave dos pincéis foi substituído pelos cliques rápidos e precisos dos smartphones. As telas feitas para pinturas foram trocadas pelas dos celulares. E o colorido fluido das tintas deu lugar à paleta de cores do aparelho. Com o equipamento nas mãos, eles fotografaram e editaram o conteúdo, que ficou tão encantador quanto o original.
Rita Cavalcanti é a professora que desafiou os estudantes. Ela leciona a disciplina de artes na Escola Estadual de Ensino Médio Santo Antônio, situada em Piancó, no Sertão paraibano.
Quinzenalmente, assim como os outros professores, ela recebe uma proposta com temas específicos para trabalhar em sala de aula, mas disse que tem autonomia para adaptar o conteúdo da maneira que quiser. Por isso, não tem medo de ousar quando o assunto é motivar os alunos.
“A função do professor é despertar no aluno a vontade de fazer, de se informar, buscar o conhecimento e usar esse conhecimento no seu desenvolvimento pessoal”, destacou.
Recriação da pintura “A Criação de Adão”, de Michelangelo Bounarroti — Foto: Rita Cavalcanti/Divulgação
Com a 3ª série do ensino médio, ela resolveu pedir para que os alunos recriassem pinturas famosas de qualquer movimento artístico, por meio de uma fotografia convencional ou selfie.
A principal tarefa da turma era a de acrescentar sentido, dar um toque pessoal para as obras, desde que os itens de prevenção à Covid-19 fossem expostos. Dessa forma, a pandemia seria representada de modo leve, mas reflexivo.
Nas imagens, as peças mais vistas são máscaras, potes de álcool em gel e garrafas com água sanitária. Os produtos espelham a rotina da população mundial desde o início da pandemia.
“Surpreendeu-me a criatividade desses alunos. Eles usaram vários aplicativos e me deram aula sobre edição de fotos”, destacou Rita, que também aprendeu com a atividade propôs.
Clarissa Carneiro recriou a pintura “Mulher Tocando Guitarra”, de Gerard van Honthorst — Foto: Rita Cavalcanti/Divulgação
A reação da turma variou. Alguns alunos encararam o exercício sem pensar duas vezes. Outros enfrentaram um pouco de timidez para executá-lo.
A professora acha que, durante as aulas presenciais, consegue fazer com que a turma fique mais engajada com as atividades. Para Rita, o ensino na modalidade remota pode desestimular a turma. Contudo, ela foi surpreendida com a desenvoltura do grupo.
“Tenho um aluno que mal fala em sala de aula e ele se superou no modo remoto de trabalhar em casa. Pediu até para passar mais atividades assim. Pode ser que seja pela facilidade de mexer com a tecnologia”, refletiu.
A atividade agradou Ranyelle Vidal da Silva, de 17 anos. Ela deu uma cara nova para o quadro “Moça com Livro”, do pintor brasileiro Almeida Júnior.
A estudante mora na zona rural do município de Piancó e tem dificuldades com o acesso à internet. Sem sinal wi-fi em casa, a adolescente precisa usar pacotes de dados móveis para acompanhar as aulas.
Repaginação de “Mona Lisa”, quadro famoso do pintor Leonardo da Vinci — Foto: Rita Cavalcanti/Divulgação
Mesmo sem estrutura para estudar, a única reclamação dela é a falta da presença dos professores. Por isso, considera que ela e os colegas de classe se interessam por atividades dinâmicas como a de repaginar as pinturas.
Clarissa Carneiro Pereira, de 17 anos, é colega de turma de Ranyelle. Ela recriou a pintura intitulada de “Mulher Tocando Guitarra”, do pintor holandês Gerard van Honthorst.
Ela se identificou com a obra, o que tornou a aprendizagem ainda mais significativa, assim como a integração entre diferentes variações artísticas.
“O que eu achei interessante nele, para reproduzi-lo, foi a mulher em si. Por ela estar tocando um violão pequeno, o que me lembrou meu instrumento ukulele. E também porque eu gosto muito de música”, contou.
Mesmo com elementos em comum, a foto demorou um pouco para ficar pronta. A garota precisou até de uma ajudinha extra.
“Eu peguei uma camisa branca social e usei. Peguei meu instrumento, que é o ukulele, fiz algumas penas e coloquei na minha cabeça. Daí, pedi a ajuda da minha irmã para conseguir tirar as fotos. Demorou muito até sair uma foto boa”, explicou.
A avaliação da professora é positiva. Ela considera que atingiu o objetivo de fazer com que a arte seja feita, contextualizada e apreciada.
“Eu luto para isso”, concluiu Rita.
Alunos da rede estadual de ensino acompanham aulas pela internet
O Governo da Paraíba decretou a antecipação das férias escolares em todas as escolas da rede estadual de ensino como medida de prevenção a disseminação ao novo coronavírus, no último dia 18 de abril.
Com a suspensão das aulas presenciais, após decreto do governador, o regime especial de aulas online começou no dia 27 de abril.
A Secretaria de Educação, Ciência e Tecnologia (SEECT) disponibilizou a plataforma online Paraíba Educa, que reúne todas as informações sobre regime especial de ensino, assim como os recursos educacionais, documentos legais e pedagógicos norteadores, além de promover o contato direto entre estudantes, professores, gestores e secretaria.
Além da plataforma Paraíba Educa, também serão utilizados os seguintes recursos:
- Google Classroom: Trata-se de uma plataforma virtual para aulas online, que serão organizadas pelas próprias escolas. Esta ferramenta será incorporada pelas turmas devidamente matriculadas na Plataforma SABER da SEECT.
- Aplicativo Paraíba Educa: Permitirá o acesso dos estudantes e professores ao Google Classroom e à Plataforma SABER.
- Vídeo-aulas: A SEECT vai disponibilizar uma grade de programação para todas as etapas de ensino, a ser exibida em canal aberto em diferentes regiões do estado.
- Redes sociais: Serão ferramenta de interação entre equipes escolares, estudantes e famílias em grupos oficiais das turmas criados por cada escola. Também serão utilizadas para o envio de roteiros de atividades estruturadas para as famílias e estudantes.
Paraíba tem protocolo com orientações sobre as aulas
O Governo da Paraíba divulgou, no dia 28 de agosto, o protocolo do novo normal para o segmento de educação, elaborado pela Secretaria de Estado da Saúde (SES). O documento sugere recomendações e orientações técnicas e de prevenção ao controle da Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, nos estabelecimentos escolares.
O protocolo sanitário dedicado ao setor de educação não determina a abertura de escolas, creches, universidades ou centros de ensino. O retorno das aulas referentes ao ano letivo de 2020 ainda está em discussão. Por isso, o documento funciona como uma espécie de preparação para o futuro do segmento.
Ações básicas do protocolo sanitário
- Realizar capacitações com os professores, técnico-administrativos, prestadores de serviços e colaboradores que estarão em atendimento aos alunos e ao público em geral;
- Compartilhar informações claras e precisas sobre a Covid-19, normalizar a comunicação sobre medo e ansiedade e promover estratégias de autocuidado não apenas para os alunos e suas famílias, mas também para os professores e outros funcionários da escola;
- Estimular o método de ensino não presencial;
- Realizar orientações gerais de distanciamento social;
- Adotar ensino não presencial combinado ao retorno gradual das atividades presenciais;
- Realizar escalonamento entre os alunos, diminuindo contato entre eles;
- Manter o distanciamento de 1,5 metro entre as pessoas, com exceção dos profissionais que atuam diretamente com crianças de creche e pré-escola e cuidadores de estudantes em atendimento educacional especializado (AEE);
- Utilizar marcação no piso para sinalizar o distanciamento de 1,5 metro;
- Cumprir o distanciamento de 1,5 metro durante a formação de filas;
- O uso de salas dos professores, de reuniões e de apoio deve ser limitado a grupos pequenos e respeitar o distanciamento de 1,5 metro entre as pessoas;
- As bibliotecas podem ser abertas, desde que seja respeitado o distanciamento de 1,5 metro entre as pessoas;
- Os intervalos ou recreios devem ser feitos com revezamento de turmas em horários alternados, respeitando o distanciamento de 1,5 metro entre as pessoas, para evitar aglomerações;
- As atividades físicas não devem promover contato físico entre os estudantes, não compartilhar materiais e devem ser realizadas em quadras poliesportivas ou locais abertos e arejados. A área utilizada deve ser higienizada após a sua realização;
- Priorizar atividades ao ar livre;
- Avaliações, testes, provas e vestibulares podem ser realizados desde que seja cumprido o distanciamento de 1,5 metro e demais diretrizes aplicáveis deste protocolo, sobretudo higienização de espaços e equipamentos;
- Evitar que pais, responsáveis ou qualquer outra pessoa de fora entre na instituição de ensino sem permissão. Uso de máscara é obrigatório;
- Priorizar, sempre que possível, refeições empratadas ao invés do autosserviço;
- Refeitórios e cantinas devem garantir distanciamento de 1,5 metro nas filas e proibir aglomeração nos balcões utilizando sinalização no piso;
- Organizar a entrada e a saída para evitar aglomerações, preferencialmente fora dos horários de pico do transporte público;
- Manter as reuniões e encontros pedagógicos de forma virtual.