Um protótipo de avião Air Force One supersônico pode estar pronto já em 2025. A Força Aérea dos Estados Unidos trabalha no momento com a concessão de contratos de desenvolvimento da aeronave.
Na semana passada, foi anunciado que a startup Exosonic é uma das empresas a assinar um contrato com a Força Aérea do país para desenvolver o transporte executivo supersônico que poderia ser usado como o Air Force One, o avião oficial da presidência dos Estados Unidos.
Baseada na Califórnia, a startup está trabalhando em um jato supersônico de baixo “boom” (o ruído altíssimo produzido quando se quebra a barreira do som) que atinge a velocidade Mach 1.8. A máquina chamou a atenção da Diretoria de Transporte Aéreo Presidencial e Executivo da Força Aérea dos Estados Unidos.
O anúncio vem algumas semanas depois da notícia, revelada no mês passado, de que a mesma diretoria estava investindo em outra empresa, a Hermeus Corporation, sediada em Atlanta. A Hermeus está trabalhando em um veículo hipersônico de 20 lugares que poderia levar passageiros de Nova York a Londres em 90 minutos.
O projeto da empresa de Atlanta é levemente diferente: a Hermeus está fazendo parceria com a Força Aérea dos Estados Unidos e a diretoria de transporte aéreo da presidência para desenvolver sua nave Mach 5, cuja imagem aparece no alto desta reportagem. Ela iria apoiar a frota presidencial e executiva.
A CNN informou em 2019 que, passadas cinco décadas e 11 governos com o mesmo visual, a administração do presidente Donald Trump planejava dar um tom mais patriótico ao Air Force One fazendo uma nova pintura na aeronave. Agora, as instâncias do governo federal dos Estados Unidos por trás da Força Espacial passaram a adotar uma abordagem bem mais ambiciosa em relação ao transporte pessoal do presidente – que vão além da pintura.
Com 70 assentos, o projeto da californiana Exosonic possui uma autonomia de 9.260 quilômetros e, graças às técnicas de suavização de boom, deve ser capaz de voar baixo com quase o dobro da velocidade do som sem incomodar a população em solo.
“O futuro para viagens rápidas globais de passageiros é o voo supersônico de baixo boom”, declarou o CEO da Exosonic, Norris Tie, em um comunicado.
“O baixo boom permite que os viajantes voem em velocidades supersônicas sem gerar barreiras perturbadoras para as pessoas que estão em terra”.
Afinal, de que velocidade estamos falando? Bem, a velocidade Mach 1.8 é de cerca de 2.222 quilômetros por hora; portanto, a aeronave da Exosonic promete reduzir pela metade o tempo de cruzeiro em comparação com as aeronaves já existentes.
De acordo com o contrato, a Exosonic também trabalhará com a Força Aérea dos EUA para modificar a cabine da aeronave, fazendo com que ela tenha as medidas de segurança necessárias para o equipamento de comunicação e os acessórios elegantes que permitirão aos líderes dos EUA e seus convidados trabalhar e descansar a bordo. De acordo com o site Military.com, um protótipo supersônico do Força Aérea Um dos EUA pode ser lançado em 2025.
Hermeus testou com sucesso um protótipo de motor Mach 5 em fevereiro de 2020
Foto: Hermeus/ Divulgação
A CNN Travel falou da Hermeus em 2019. À época, a empresa aeroespacial estava atraindo atenção por causa seus planos de desenvolver uma nave duas vezes mais rápida que o Concorde – o avião supersônico que fez seu último voo transatlântico em outubro de 2003 e viajava entre Nova York e Londres em menos de quatro horas.
Uma viagem hipersônica é aquela que atinge velocidades Mach 5 ou mais – ou seja, cinco vezes a velocidade do som. A Hermeus testou com sucesso um protótipo de motor Mach 5 em fevereiro deste ano, tendo-o projetado do zero.
“Na Hermeus, estamos procurando construir aeronaves de alta velocidade mais rápidas e mais baratas do que nunca”, disse Skyler Shuford, co-fundador e diretor de operações da Hermeus, à CNN Travel. “Construímos um protótipo de motor Mach 5 em apenas nove meses e por menos de dois milhões de dólares”.
Os fundadores da Hermeus incluem ex-funcionários da SpaceX, a startup de foguetes de Elon Musk, e da Blue Origin, a aventura espacial secreta de Jeff Bezos. Os quatro sócios trabalharam juntos na Generation Orbit, na qual ajudaram no desenvolvimento de um avião-foguete hipersônico e do mais novo X-Plane da Força Aérea dos Estados Unidos.
Embora os contratos representem um grande salto tanto para a Exosonic como para a Hermeus, Paul Bruce, professor sênior do Departamento de Aeronáutica do Imperial College de Londres, foi cauteloso ao ser abordado pela CNN, no ano passado, para falar sobre o projeto da Hermeus.
“O maior desafio para o voo hipersônico é a propulsão”, explicou. “Enviamos pequenos veículos e os pilotamos de hipersônica usando motores scramjets, um tipo avançado de motor a jato. Isso é bastante experimental e temos um longo caminho a percorrer antes de ver isso em uma aeronave de passageiros”.
“Existem muitas outras dificuldades em voar tão rapidamente rotineiramente. Os recursos de engenharia para resolver isso já temos.”
“O maior problema, portanto, é financeiro e talvez ambiental: voar tão rápido vai queimar uma quantidade enorme de combustível e será muito mais ineficiente do que voar devagar. Mas, se houver mercado para isso, não tenho dúvidas de que poderíamos fabricar alguns desses aviões”, afirmou o professor.
Em um movimento que ficou famoso em 2018, o magnata da música e empresário Kanye West ajudou a divulgar para Donald Trump o iPlane-1, apoiado pela Apple. Segundo o rapper, a aeronave seria uma alternativa movida a hidrogênio ao atual Air Force One.
Como pré-candidato à presidência dos EUA em 2020, Kanye West podia estar pessoalmente interessado no tema. Entretanto, como a CNN noticiou nesta semana, o músico só conseguiria aparecer na cédula de votação de dez estados, tornando matematicamente impossível para ele se tornar o próximo presidente.
Enquanto isso, o CEO Schuford, da Hermeus, enfatizou para a CNN que transportar presidentes em velocidades hipersônicas não é o objetivo principal de sua empresa.
“Embora um potencial Air Force One Mach 5 seja muito interessante (e incrível) para nós, estamos focados em apoiar a Diretoria de Transporte Aéreo Presidencial e Executivo ao integrar suas necessidades à nossa primeira aeronave nos próximos anos”, disse Schuford.
“Para nós, não se trata apenas de fazer um avião rápido; nosso objetivo é ancorar firmemente os EUA como um líder em voos de alta velocidade.”