Numa tentativa de ajudar o pai, que está desempregado há 3 anos, Jéssica Viana postou um vídeo dele falando sobre as suas habilidades na área de telemarketing para um processo seletivo – que ele não passou – em sua página na rede social Twitter.
Aproveitou a publicação para fazer um apelo aos internautas para ajuda-lo na recolocação profissional.
Wagno Viana tem 56 anos e vem encontrando dificuldades para conseguir um emprego. Ele tem experiência como porteiro e telemarketing, segundo a publicação que ultrapassou 180 mil visualizações.
O apelo levantou a discussão sobre os desafios desse público para continuar trabalhando após os 50 anos.
Viana não é um caso isolado. Depois de trabalhar durante 18 anos no setor de logística de uma grande rede de supermercados, o administrador Altamir Marques Carã, 52 anos, viu as portas se fecharem para ele quando saiu da empresa.
Altamir Marques Carã atua na área de logística
Arquivo pessoal
Em janeiro deste ano, conseguiu um trabalho temporário como consultor PJ (pessoa jurídica) para um projeto, mas foi dispensado logo no início da pandemia do novo coronavírus, em março.
“Assim que começou a quarentena, as atividades da empresa foram reduzidas e o projeto cancelado. Desde então, busco recolocação com a ajuda de consultorias de recursos humanos, LinkedIn e a minha rede de amigos, mas não consegui nada.”
Carã atribui a dificuldade que vem encontrando para se recolocar à idade.
Viana e Carã não estão sozinhos. No fim de 2019, 57% dos profissionais com idade entre 55 e 59 anos estavam empregados.
Neste ano, a taxa de ocupação ficou em 51%, segundo dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) devido à pandemia.
A chance desse público voltar ao mercado de trabalho depois de um ano sem emprego, de acordo com a pesquisa, é de 15,1%. E o risco desses profissionais perderem sua vaga este ano é de 15,3%.
O último levantamento feito pelo Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) também não foi favorável para este público. Ele mostrou que os profissionais com mais de 50 anos foram os únicos que amargaram mais demissões do que contratações em julho.
Para Mara Turolla, gerente de desenvolvimento de talentos e diversidade na LHH, em períodos de crise econômica, as duas pontas da pirâmide – os mais jovens que estão entrando no mercado de trabalho e os profissionais que estão saindo – são afetados nos cortes das empresas.
Mara acrescenta que a idade vem pesando principalmente por causa da pandemia.
“Quem não pode fazer home office e é grupo de risco precisa ser afastado e a empresa não pode contar com ele durante a pandemia.”
Ao contrário de Mara, Edson Carli, CEO da Academia Brasileira de Inteligência Comportamental, acredita que a idade não influencia as demissões das empresas.
“Vemos muitos profissionais com mais de 50 anos em posição de liderança nas companhias.”
Carli acredita que a questão “não está ligada com a idade em si, mas com o fato de as pessoas fazerem a mesma coisa por muito tempo”.
Por outro lado, Carli frisa que ao mesmo tempo em que as empresas desligam os profissionais acima de 50 anos, exigem que os mais novos tenham resiliência, flexibilidade e maturidade para conviver com as “agruras do ambiente de trabalho”.
“Essas qualidades só têm quem é mais maduro. Isso se ganha com a experiência de vida.”
Viana, que abriu a reportagem, tem uma entrevista de emprego na próxima terça-feira (8), segundo a filha. E ele tem uma grande torcida na sua rede de amigos e na internet para que a oportunidade dê certo.
• Seja flexível e aceite outras formas de vínculo para manter-se ativo economicamente. Normalmente as empresas optam por dar as vagas formais, com registro em carteira, para os profissionais mais jovens e contratam os mais maduros como autônomo, microempresário ou associados.
• Use a sua rede de relacionamentos para buscar vagas na sua área de atuação.
• Nunca pare de estudar. Por mais que seja especialista na sua área, é importante manter a educação continuada. “Há uma série de cursos online com baixo custo ou até de graça.”