O furacão Laura era uma tempestade formidável quando atingiu a Louisiana na quinta-feira (27).
O fenômeno quebrou vários recordes, incluindo o nível de água mais alto já registrado rio Mermentau, em Grand Chenier. Segundo o Corpo de Engenheiros do Exército dos Estados Unidos (EUA), o medidor atingiu o pico de 17,14 pés (5,22 m), mais de 4 pés (1,2 m) acima do recorde anterior, de 13 pés (3,9 m), registrados durante o furacão Audrey, em junho de 1957.
Outro recorde estabelecido pelo Laura: foi o sétimo furacão com nome que atingiu os Estados Unidos em 2020. A maioria aconteceu antes do final de agosto – foram quatro tempestades tropicais e três furacões. Todos esses fenômenos levantam uma questão: por que tantas outras tempestades estão atingindo os EUA?
A temperatura do planeta aumentou significativamente nas últimas décadas, causando mudanças no meio ambiente e levando a eventos climáticos extremos.
Um estudo feito feito pela Universidade de Winsconsin e a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOOA), a partir de 40 anos de dados coletados por satélites de tempestades globais, descobriu que a probabilidade de tempestades atingirem o status de grande furacão – categoria 3 ou superior, com ventos sustentados de 110 mph (177 km/h) ou mais – aumentou década a década.
A pesquisa descobriu que furacões, tufões e ciclones tropicais em todo o mundo estão se tornando mais fortes e potencialmente mais letais à medida em que o planeta aquece. E isso tudo por consequência da crise climática.
“A mudança é de cerca de 8% por década”, disse Jim Kossin, autor do estudo, que foi lançado em maio. “Em outras palavras, durante sua vida, um furacão tem 8% mais probabilidade de ser um grande furacão nesta década do que na década passada.”
Temperatura da superfície dos oceanos em 26 de agosto.
Foto: Reprodução/ Universidade de Winsconsin
O que torna um furacão poderoso?
Uma das formas pelas quais um furacão se fortalece é ao passar sobre águas quentes. A temperatura da água na superfície do oceano precisa ser de pelo menos 80 graus Farenheit (26ºC) – mais de 86 Fahrenheit (30ºC) é o ideal – com o calor se estendendo para abaixo da superfície. Além disso, os ventos de grande altitude precisam estar calmos, para não interromper a atividade da tempestade.
Quando o Laura se deslocou sobre Golfo do México, as temperaturas da superfície do mar estavam na casa dos 80 graus (26ºC).
As condições internas de uma tempestade também devem ser precisas. Um furacão precisa de ventilação para que continue processando todo o combustível da água quente e, assim, ganhar força.
De acordo com o National Hurricane Center, o fortalecimento rápido acontece quando um sistema tropical registra um aumento sustentado dos ventos de pelo menos 35 mph (56,3 km/h) em 24 horas ou menos. A velocidade do vento do Laura aumentou 72 km/h em 24 horas, passando de 65 km/h para 170 km/h entre as 5h de terça e 5h de quarta-feira.
Nem todas as mudanças climáticas são iguais
É importante observar que a origem de nenhuma tempestade pode ser atribuída às mudanças climáticas. O furacão Laura não surgiu apenas como consequência delas. Na verdade, é possível dizer que a ausência do fenômeno El Niño (ou mesmo a previsão do La Niña) foi mais uma causa. No entanto, tempestades fortes e que se intensificam rapidamente, como o Laura, são mais prováveis de acontecer justamente em decorrência dessas mudanças.
Devido às mudanças climáticas, as temperaturas do oceano estão bastante acima do normal. Quanto mais quente o oceano quando um sistema tropical entra nele, mais provável é que ele ganhe força.
De acordo com a Nasa, as temperaturas dos oceanos também influenciam na evolução de tempestades tropicais e furacões, que tiram energia das águas quentes do oceano para se formar e se intensificar.
Portanto, se as temperaturas do oceano são muito mais altas do que normalmente estariam, então as tempestades deveriam, em teoria, ser capazes de se intensificar mais do que o normal, já que todas as outras circunstâncias são iguais.
As temperaturas mais altas do oceano não são capazes de criar um furacão, mas um sistema de tempestade existente pode se transformar em uma tempestade mais poderosa devido às temperaturas mais altas do oceano.
Mas nem todas as facetas das mudanças climáticas relacionadas a sistemas tropicais são ruins. Por exemplo, o cisalhamento do vento, que é a mudança na velocidade e/ou direção do vento. É um fenômeno que pode aumentar devido às mudanças climáticas e pode ser benéfico. Se houver força suficiente no cisalhamento do vento, ele é capaz de separar sistemas tropicais.
Isso foi visto no caso do furacão Marco quando ele se deslocou para o Golfo do México. Na teoria, as temperaturas do oceano eram muito altas – combustível para os furacões se desenvolverem ainda mais – mas mesmo com esse ingrediente adicionado, Marco não conseguiu superar o forte vento forte e o ar seco associado, eventualmente enfraqueceu e se desfez, logo após chegar ao continente.
No entanto, também pode haver consequências destrutivas.
Chuva em excesso e fortalecimento rápido são as maiores preocupações
Um dos efeitos das mudanças climáticas mais apontado pelos cientistas é o aumento da quantidade e da intensidade das chuvas. Isso é causado por temperaturas oceânicas mais altas do que o normal, que criam um ambiente mais quente e úmido para tempestades.
Kevin Trenberth, cientista sênior do Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica, explicou que a mudança climática leva a esses ambientes mais quentes e úmidos e prepara o terreno para o que pode ser a maior ameaça das tempestades: chuvas fortes e enchentes.
Isso aconteceu com os furacões Florence, Harvey, Michael, Dorian e, novamente, com o Laura.
Oceanos mais quentes significam que mais umidade está disponível em uma atmosfera mais quente.
“É uma das relações mais simples em toda a meteorologia”, disse Michael Mann, professor de ciências atmosféricas e diretor do Earth System Science Center da Pennsylvania State University.
Para cada 1 grau Celsius (1,8 grau Fahrenheit), há 7% mais umidade no ar. Com o furacão Florença em 2018, as temperaturas do oceano estavam tendendo a cerca de 2,7 graus Fahrenheit (1,5ºC) mais altas do que o normal, o que contribuiu para quase 10% a mais de umidade disponível na atmosfera.
O Florença acabou se tornando o sistema tropical mais úmido a atingir a costa leste dos Estados Unidos, despejando quase um metro de chuva em partes da Carolina do Norte.
A Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA) afirmou que a temporada de furacões no Oceano Atlântico em 2020 provavelmente será muito ativa, com chance de bater novos recordes. A NOAA prevê entre 19 a 25 tempestades para temporada que, vale dizer, ainda não atingiu seu pico.
Pelas estatísticas, isso costuma acontecer apenas em 10 de setembro.