Alexei Navalny, opositor ao governo de Vladimir Putin, na Rússia, pode ser transferido nesta sexta-feira (21) para um hospital na Alemanha. Ele está inconsciente em um hospital na Sibéria, sob suspeita de envenenamento, segundo sua porta-voz.
Um avião com Unidade de Terapia Intensiva (UTI) decolou de Nuremberg para pegar Navalny, informa a imprensa alemã. Ele deve ser levado para o Berlin Charity Hospital.
O ativista anticorrupção se sentiu mal durante um voo e o avião fez um pouso de emergência em Omsk, informou Kira Yarmysh, acrescentando que suspeitavam que alguma substância havia sido misturada ao seu chá.
Navalny, de 44 anos, tem sido um crítico ferrenho do presidente Putin. Em junho, ele descreveu uma votação sobre as reformas constitucionais como um “golpe” e uma “violação da Constituição”. As reformas permitem que Putin cumpra mais dois mandatos.
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse posteriormente que desejava uma recuperação rápida do opositor, como faria com todos os cidadãos em tais circunstâncias, e que as autoridades poderiam aprovar tratamento no exterior, se solicitado.
O que disse a porta-voz?
Kira Yarmysh, secretária de imprensa da Fundação Anticorrupção, fundada por Navalny em 2011, tuitou: “Esta manhã Navalny estava voltando de Tomsk para Moscou. Durante o voo, ele se sentiu mal. O avião fez um pouso urgente em Omsk. Alexei foi envenenado”.
Ela acrescentou: “Suspeitamos que Alexei foi envenenado por algo misturado ao chá [dele]. Foi a única coisa que ele bebeu desde a manhã. Os médicos estão dizendo que o agente tóxico é absorvido mais rapidamente em líquido quente. No momento, Alexei está inconsciente”.
Yarmysh postou mais tarde que Navalny estava em um respirador e em coma, e que o hospital estava cheio de policiais. Ela disse que pediram para revistar seus pertences.
Ela também disse que os médicos estavam inicialmente prontos para compartilhar qualquer informação, mas depois alegaram que os testes de toxicologia foram adiados e estavam “claramente tentando ganhar tempo, e não dizendo o que sabiam”.
Tanto a esposa de Navalny, Yulia Navalnaya, quanto a médica Anastasia Vasiliyeva chegaram ao hospital, mas tiveram o acesso negado a ele, disse Yarmysh.
Quais são os outros relatos?
A agência de notícias Tass citou uma fonte do Hospital de Emergência Omsk que teria dito: “Alexei Anatolyevich Navalny, nascido em 1976. Envenenamento, terapia intensiva”.
No entanto, o médico-chefe adjunto do hospital disse mais tarde à mídia que não havia certeza de que Navalny havia sido envenenado, embora “envenenamento natural” fosse um dos diagnósticos em consideração. Anatoly Kalinichenko disse que os médicos estavam “genuinamente tentando salvar a vida de Navalny”.
Quem é Alexei Navalny?
Ele fez seu nome ao expor a corrupção oficial, rotulando a Rússia Unida de Putin como “o partido dos vigaristas e ladrões”, e cumpriu várias penas de prisão.
Em 2011, ele foi detido e encarcerado por 15 dias após protestos contra suposta fraude eleitoral do partido Rússia Unida, de Putin, nas eleições parlamentares.
Navalny foi brevemente preso em julho de 2013 sob a acusação de peculato, mas denunciou a sentença como política.
Ele tentou concorrer à corrida presidencial de 2018, mas foi barrado por causa de condenações anteriores por fraude em um caso que ele novamente disse ter motivação política.
Navalny também foi condenado a 30 dias de prisão em julho de 2019, após convocar protestos não autorizados. Ele adoeceu na prisão. Os médicos o diagnosticaram com “dermatite de contato”, mas ele disse que nunca teve nenhuma reação alérgica aguda e seu próprio médico sugeriu que ele pode ter sido exposto a “algum agente tóxico”. Navalny também disse que acha que pode ter sido envenenado.
Navalny também sofreu uma grave queimadura química no olho direito em 2017, depois de ter sido atacado com um corante antisséptico.
No ano passado, sua Fundação Anticorrupção foi oficialmente declarada um “agente estrangeiro”, permitindo que as autoridades a submetessem a mais pressão.
Se isso for confirmado como um envenenamento, ataques anteriores a críticos de alto nível do presidente Putin seriam novamente colocados no centro das atenções.
Eles incluem o político Boris Nemtsov e a jornalista Anna Politkovskaya, que foram mortos a tiros, e o oficial de inteligência Alexander Litvinenko, que morreu envenenado no Reino Unido.
Outro jornalista, Vladimir Kara-Murza, ainda está vivo, mas alegou que foi envenenado duas vezes pelos serviços de segurança russos.