Um estudo da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) revelou um comércio ilegal de peixes ornamentais marinhos e de água doce em grupos de uma rede social. A pesquisa registrou 1.121 anúncios de venda de peixes ornamentais em seis meses.
A pesquisa foi desenvolvida pela mestre em Ciências Biológicas Anna Karolina Martins, sob orientação dos professores Rômulo Nóbrega e Tacyana Ribeiro.
De acordo com a pesquisadora, os grupos da rede social funcionam como um mercado virtual, apesar da própria plataforma proibir o uso de suas ferramentas para o comércio de animais. A maioria dos anúncios tinha origem na região sudeste do país (83% do total), concentrados principalmente nos estados de São Paulo (60%) e Rio de Janeiro (20%).
“Verificamos que, em 94% dos anúncios, os compradores deveriam retirar os animais diretamente com o vendedor. Entretanto, 6% dos anúncios ofereciam o envio dos animais através dos Correios, prática que é proibida pela lei Postal brasileira”, disse a pesquisadora.
Além disso, a pesquisa também mostrou que a maioria dos animais anunciados não é nativa do Brasil. Os anúncios registrados ofereciam mais de 5 mil peixes, pertencentes a 609 espécies.
“Constatamos que foram anunciadas mais espécies de peixes de água doce (63%) do que de peixes marinhos (37%). Além disso, 66% das espécies anunciadas não eram nativas do Brasil e quase um quarto (141) das espécies anunciadas tinha sua venda proibida de acordo com a legislação vigente no período de amostragem”, disse Anna Karolina.
A pesquisa foi feita entre 2018 e 2020, durante o período de mestrado de Anna Karolina Martins. Além dela, Franciany Braga-Pereira (bióloga e mestre em Ciências Biológicas/UFPB), Henrique Anatole Ramos (The Commission for the Conservation of Antarctic Marine Living Resources/Austrália), Luiz A. Rocha (California Academy of Sciences) e Ierecê Maria de Lucena Rosa (professora titular aposentada da UFPB) também contribuíram com a pesquisa.
Com relação ao status de conservação dos animais, a pesquisa observou que os anúncios ofereciam 23 espécies que são consideradas ameaçadas pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN); 16 espécies que constam nos apêndices da Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Fauna e da Flora Silvestres Ameaçadas de Extinção (CITES); e sete espécies que estão na Lista Oficial Brasileira de Espécies Ameaçadas de Peixes e Invertebrados Aquáticos.
Algumas das espécies ameaçadas que foram anunciadas eram o cascudo-zebra, criticamente ameaçada, de acordo com a lista brasileira); o pirarucu (listado no apêndice II da CITES); e o cavalo-marinho, considerado ameaçado pela lista brasileira e também listado no apêndice II da CITES, de acordo com a pesquisadora.
Em relação ao preço dos peixes, foram encontrados valores que variaram entre R$ 0,09 e R$ 7 mil, sendo que os peixes marinhos são mais caros (preço médio de R$ 379,6) que os peixes de água doce (preço médio de R$ 129,7).
Segundo a pesquisadora, o comércio é uma das principais ameaças à conservação de animais no mundo e a internet tem ampliado o alcance e o impacto dessas atividades mercantilistas. De acordo com Anna Karolina, os resultados da pesquisa podem auxiliar na adequação da legislação, a fim de incluir a fiscalização adequada das atividades comerciais que são realizadas através de redes sociais.
Anna Karolina Martins defende que é necessário “atualizar a estrutura legislativa que regulamenta a exploração desses animais, incluindo diretrizes que abranjam a dinâmica do comércio através de redes sociais, e a educação dos consumidores sobre os risco que o comércio realizado de forma ilegal representa para a conservação”.