Shantal usou sua voz e sua influência – ela conta com mais de 1,3 milhões de seguidores no Instagram – para alertar sobre abuso sexual infantil em sua conta nas redes sociais. Casada com o modelo Mateus Verdelho e mamãe do pequeno Filippo, a empresária relembrou à Glamour Brasil o abuso que sofreu de um motorista que a levava da escola, quando tinha sete anos, e como isso ainda mexe com ela.
“Morávamos em Porto Velho, Rondônia. Minha mãe pagava um motorista, que fazia a segurança de banco perto de onde morávamos e realizava um percurso parecido entre a nossa casa e a escola em que estudávamos. As coisas começaram devagar, aos poucos. Por isso fiquei confusa. Não sabia se o que estava acontecendo ali era aquilo mesmo ou não. Demorei um pouco para sacar… ‘Isso não é nada, deve ter sido sem querer, passou a mão sem querer’. Enfim… Ele começou a passar mão sempre que trocava a marcha do carro. De passar a mão nas minhas pernas foi para as minhas partes íntimas. Subiu a mão para o short. A evolução demorou dias para acontecer.
Quando entendi o que estava acontecendo, vi que não poderia acontecer. Ao mesmo tempo, não tinha coragem de falar para a minha mãe, meu pai ou para alguém. Para proteger minha irmã mais nova, me prontifiquei a sentar na frente do carro para ele não fazer isso com ela também. Isso pode ter sido interpretado de que eu queria para piorar a situação, né?!
Lembro de algumas situações como ele pegar nas minhas partes íntimas. De me fazer pegar nas deles. Começou a levar objetos no caminho até a escola. Lembro que levou um pau de madeira para eu segurar. Lembro que ele freava o carro rapidamente. Ele freva, acelerava, freava, acelerava, sabe?! Para fazer movimento de vai e vem. Ele colocava a mão e eu não tirava. Morria de medo. Morria de medo da minha irmã ver. Era como se eu me sentisse culpada por tê-lo deixado chegar até ali.
Não tinha certeza do que ele estava fazendo até o dia do pau de madeira. Contei para a minha mãe, que nunca duvidou, e acabou falando que não precisávamos mais dele para irmos à escola. Fiquei com medo de contar por ele ser adulto, ter mais credibilidade e de que pudesse fazer algo contra minha família. Não tínhamos educação sexual na infância. Era muito cedo e os tempos eram outros. Não tinha certeza que aquilo era mesmo um abuso sexual.
Até hoje tenho várias consequências desse abuso e que voltaram após ser mãe. Tenho medo de que aconteça com o meu filho. Olho desconfiada, acho que algo sexual vai acontecer com meu filho ou comigo. Por exemplo, como será quando ele participar de excursões da escola em que precisa dormir fora ou quando quiser dormir na casa dos amigos? Não sei se conseguirei deixar. É algo a se trabalhar na terapia, que comecei a fazer.
Estava refletindo e nunca tinha trabalhado esse assunto. Eu posso falar para as pessoas que elas podem contar, que os pais vão acreditar, que posso falar para os pais acreditam nos filhos e contar a minha história deixando as pessoas em alerta. Assim eu consigo evitar. Comigo poderia ter acontecido só de ele passar a mão quando trocava a marcha na minha perna. Não teria sido mais profundo, se eu tivesse contado desde a primeira vez.
O que aconteceu não tem como tirar da gente, não existe uma pílula mágica. O que posso fazer é ressignificar. Como tenho voz, posso ajudar contando minha experiência incentivando assim as pessoas a detectarem os abusos, procurando ajuda”.