Crianças com menos de 5 anos de idade têm entre 10 e 100 vezes mais material genético do novo coronavírus no nariz do que crianças maiores, adolescentes e adultos, segundo um estudo publicado nessa quinta-feira (30) no jornal acadêmico JAMA Pediatrics.
A pesquisa não mediu a transmissibilidade da doença, mas levanta dúvidas sobre o quão facilmente o vírus pode ser transmitido pelos menores de 5 anos, principalmente neste momento em que diversos países começam a avaliar o retorno às aulas.
“Percebemos que, dentre as crianças que testamos para o vírus Sars CoV-2 e que deram positivo, as mais novas pareciam ter uma quantidade maior de ácido nucleico viral – uma alta carga viral no nariz – comparadas a crianças mais velhas e adultos”, explicou a médica e principal autora da pesquisa Taylor Heald-Sargent, pediatra especialista em doenças infecciosas no departamento infantil do Hospital de Chicago.
“Quando juntamos os números […], descobrimos que, na verdade, havia uma maior quantidade dos genes que são codificados pela Síndrome respiratória aguda grave (Sars), que normalmente está relacionada a mais vírus, no nariz de crianças com menos de 5 anos, em comparação a crianças mais velhas e adultos.”
Heald-Sargent e sua equipe analisaram 145 cotonetes com amostras coletadas de pacientes com sintomas leves e moderados da Covid-19 dentro de uma semana. Do total, 46 deles têm menos de 5 anos, 51 têm entre 5 e 17 anos, e 48 têm entre 18 e 65 anos.
As amostras foram coletadas entre o fim de março e o fim de abril de vários pacientes ao darem entrada no hospital, ao receberem alta, no departamento de emergências e em locais de testagem drive-thru em um centro médico pediátrico em Chicago.
Apesar das evidências iniciais, Heald-Sargent disse que são necessários mais estudos para analisar a transmissibilidade da Covid-19 em crianças. “Até agora, essa transmissão não parece vir essencialmente de crianças”, afirmou ela.
A equipe da pediatria observou ainda que, por causa das medidas de restrição implementadas em meados de março, muitas crianças mais novas tiveram poucas oportunidades de transmitir a doença.
“A dúvida ainda persiste: pode ser mais transmitida pelas crianças?”, questiona ela, destacando que a falta de evidências não quer dizer que são evidências de que isso não acontece.
“Qualquer professor ou pediatra vai te dizer que [crianças mais jovens] são pequenos vetores eficazes de transmissão de vírus, porque ficamos muito doentes no inverno ao contraí-los dessas crianças”, afirmou Heald-Sargent.