Julho tem um significado especial para Gilmar Vanderley Resende e Sueli Fernandes Resende, mês em que eles disseram sim para a construção de uma família. A data 14, no entanto, passará a ser morada de sentimentos como dor e felicidade pela morte de Sueli, mas também pela recuperação de Vanderlei, que recebeu alta médica após 16 dias de internação para tratamento da Covid-19.
Vanderley, torneiro mecânico de 63 anos, começou a sentir os primeiros sintomas provocados pelo novo coronavírus ao fim de um dia de trabalho. A família se preocupou pelo histórico de saúde, que o enquadrava no grupo de risco da doença. No dia seguinte começou a ter acompanhamento médico.
A dona de casa, de 59 anos, também apresentou sintomas da Covid-19, mas em menor gravidade. Ela também passou a ser acompanhada por uma médica amiga da família.
Poucos dias depois, a estudante Rafaela Maria Fernandes Resende, de 26 anos, morava com os pais. Junto com eles, foi até uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) para que os três fizeram testes para detecção do novo coronavírus. Apenas o de Vanderley teve resultado positivo.
Mulher morreu por Covid-19 no dia do aniversário de 41 anos de casamento na PB — Foto: Rafaela Resende/Divulgação
Na madrugada do dia 5 de julho ele foi internado na UTI de um hospital público da capital, que é referência no tratamento da Covid-19. No dia seguinte, Sueli também foi hospitalizada. Ela teve um infarto ainda na unidade hospitalar, uma piora no quadro clínico renal, não resistiu e morreu.
Mesmo com uma boa evolução no quadro de saúde, Vanderley estava triste. Há dias não via a companheira com quem dividia vida há mais de duas décadas. Apenas um dia antes de receber alta médica, ele soube do falecimento da amada.
“Ele se emocionou bastante. Ficou muito triste”, contou Rafaela.
A força de Vanderlei de vencer a Covid-19 e enfrentar a perda de um amor foi reconhecida pelos aplausos que refletem a admiração da equipe médica que cuidou dele. Toda a bravura do idoso tem uma razão valiosa, a família que o esperava de volta para casa.
Ninguém conseguiu conter a emoção revelada por meio do choro que acompanhou a sensação de vitória e liberdade.
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Sueli não esteve e nem estará mais fisicamente presente ao lado de quem tanto amava. Mas as lembranças da convivência com ela permanecem nos corações da família que a ama e entendeu que o amor está ainda mais forte.
“Ela sempre me apoiou em tudo. Eu podia conversar com ela sobre qualquer coisa. Ela era amiga dos meus amigos. Ela dizia que tinha nascido na época errada, era muito pra frente”, destacou Rafaela.
O sorriso largo e tão generoso quanto as ações de Sueli talvez seja uma das maiores saudades que ficam para o marido, os três filhos e as duas netas.
“Sempre foi alto astral, estava sempre rindo. Eu acordava com ela rindo. Sempre gostou de ajudar todo mundo, pessoas e animais. A gente tem três gatos e quatro cachorros que ela tirou da rua”, recordou a filha.
Os últimos capítulos da vida de Sueli foram dignos das histórias de séries de TV que ela tanto gostava de assistir e partilhar. A família, agora, assumirá as próximas temporadas sem esquecer as lições inspiradores que ela deixou. “Estamos ainda mais unidos”, concluiu Rafaela.