Na última semana, a Polícia Civil de São Paulo encontrou um adolescente responsável por um dos perfis do Homem Pateta nas redes sociais. Mas isso não significa que o perigo acabou, já que diversas outras páginas com o mesmo conteúdo continuam ativas na internet.
O caso tomou repercussão nacional no final de junho, quando Polícia Civil e o Tribunal de Justiça de Santa Catarina alertaram para o caso . Diversos perfis foram encontrados em redes sociais como Facebook , Instagram e TikTok com a foto de um homem fantasiado de Pateta, personagem da Disney. Em comum, todos eles usam o nome ‘Jonathan Galindo’ e visam assustar crianças na internet – em casos mais extremos, desafiando-as à automutilação e até ao suicídio.
O garoto do interior paulista encontrado na última semana era dono de apenas um desses perfis, o que significa que diversos outros continuam sendo uma ameaça para crianças e adolescentes. As páginas não funcionam em rede, como explica o policial civil Ivan Castilhos, que atua no Núcleo de Inteligência e Segurança Institucional, do Tribunal de Justiça de Santa Catarina.
“São várias pessoas que atuam de forma independente. A gente percebeu que nem todo perfil dessa figura do Homem Pateta está cometendo crime. Alguns perfis são voltados mais para pegadinhas, sustos, coisas de terror. Essa seria a proposta inicial dele, só que algumas pessoas acabaram abusando e fizeram perfis voltados para cometer crimes, incitar suicídio, falar coisas inapropriadas para menores de idade”, explica.
Ivan ainda diz que algumas redes sociais já excluíram perfis do Homem Pateta, o que realmente pode ser observado em buscas nas plataformas. Mas isso não é motivo para que pais e responsáveis abaixem a guarda. “Outros perfis permanecem, alguns jovens insistem em continuar criando”, conta Ivan.
Como proteger meu filho do Homem Pateta?
Se seu filho já esbarrou com o Homem Pateta nas redes sociais, é muito importante fazer uma denúncia formal à polícia. Além disso, uma conversa com a criança ou adolescente é essencial. “O que os pais deveriam fazer é conversar primeiro com essa criança, acolher possíveis medos, inseguranças e dúvidas que ela tenha”, aconselha Nathalia Pontes, coordenadora de pesquisa e desenvolvimento educacional na PlayKids, empresa de conteúdo educativo infantil.
Mas mesmo que seu filho ainda não tenha encontrado o Homem Pateta por aí, é importante alertá-lo sobre a existência desse tipo de perigo. Nathalia chama a prática de letramento digital, que é quando os adultos vão instruindo crianças e adolescentes a lidarem com o universo virtual.
“Se você dá conselhos como ‘não aceite coisas de estranhos’ no dia a dia do seu filho, você também tem que dar esses conselhos no dia a dia online. É falar, de uma forma clara e simples, de alguns perigos que essa criança pode esbarrar uma vez que ela esteja nesse mundo virtual”, explica Nathalia.
A especialista lembra que esses perigos podem ser o Homem Pateta, mas também podem ser diversos outros. “Pode ser desafios inapropriados, conteúdo inapropriado, aceitar uma pessoa que você não conhece e começar a conversar. É preciso alertar que existem essas coisas na rede para que a criança fique um pouco mais esperta, para quando ela se deparar com alguma coisa estranha, ela conseguir reportar aos pais”.
Outra ferramenta que pode ser de grande ajuda são os aplicativos de controle parental , que permitem que os pais ou responsáveis controlem alguns recursos dos dispositivos de seus filhos. O recurso é bastante útil, sobretudo, para crianças mais novas.
Além do Homem Pateta
Tanto Nathalia quanto Ivan alertam para que os pais fiquem atentos aos diversos perigos presentes na internet – e o Homem Pateta é apenas um deles. “Esse é um caso a mais, já tiveram outros dois parecidos, da Baleia Azul e da Momo . Então, esse é um outro caso que surgiu, vão surgir outros e tem outros até que não vão ser personagens, são perfis falsos e predadores”, lembra Ivan.
Nathalia aconselha, portanto, que a conversa sobre segurança digital seja um assunto frequente na relação entre pais e filhos, sejam eles crianças ou adolescentes. De acordo com a especialista, os responsáveis devem acompanhar a caminhada digital dos jovens até os 18 anos.
“Independente da idade, é importante que os pais fortaleçam laços de comunicação, e acompanhem para ver se essa criança não vai ser seduzida de forma negativa. Por mais que pareça um pouco exagerado, é muito importante que os pais tragam esses limites para as crianças, principalmente para os adolescentes, e relembrem de uma forma amigável e tranquila das possíveis ameaças que elas podem se deparar na rede”, opina.
Para ela, quando os pais instruírem os filhos sobre o Homem Pateta , é essencial explicar que esse não é um caso isolado. “A gente entende que tem uma certa recorrência nas ameaças digitais. Então não tratar o caso apenas como algo passageiro, e sim manter isso no diálogo e no cotidiano da família para que de fato as crianças estejam seguras. Falar sobre segurança digital é algo que tem que acontecer de forma cotidiana”.