Um microssistema capaz de gerar energia limpa e economia para órgãos públicos foi criado por pesquisadores do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (Prodema) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). De acordo com o pesquisador responsável pelo projeto, Edvanil Albuquerque, o protótipo em fase de testes transforma as energias eólica e fotovoltaica em elétrica, para assim produzir energia renovável mais barata e rentável para iluminação de repartições públicas.
Segundo a UFPB, as peças do microssistema têm longa durabilidade e baixa necessidade de manutenção. O dispositivo tem a capacidade de se adequar ao volume de vento e de radiação solar de uma determinada localidade, com o intuito de gerar as energias eólica e fotovoltaica necessárias e transformá-las em elétrica.
De acordo com o pesquisador, com o microssistema é possível gerar energia elétrica com grau elevado de tecnologia empregada, a preço competitivo e sem desgaste ambiental. "Ele pode diminuir muito o custo dos órgãos públicos com energia. São energias limpas que têm um impacto neutro na natureza. Quase não existem danos”, disse.
Conforme Edvanil Albuquerque, além de o projeto garantir a sustentabilidade do meio ambiente e economia para o Estado, a fabricação dos componentes do microssistema demandaria mão de obra qualificada.
“Isso pode aumentar o número de escolas técnicas e quantitativo de vagas oferecidas por elas, estimulando a indústria nacional a produzir e a desenvolver as peças dessa nova tecnologia, com geração de emprego e renda”.
O desenvolvimento do microssistema teve início em 2017, a partir da criação de um software de modelagem matemática e de sensoriamento remoto que apurou dados obtidos a partir do programa Google Earth Engine e da base de dados Terraclimate.
De acordo com a pesquisa, o teste teórico demonstrou que o microssistema híbrido offgrid, sem conexão com a rede pública de energia, gerou potência solar e eólica suficiente para garantir o pleno atendimento da potência requerida pela iluminação do laboratório, que é de 144W, durante todo o ano, de modo estável. O sistema também se mostrou mais eficiente com relação à utilização, de forma isolada, de cada matriz energética renovável sob análise.
“A utilização de sistemas híbridos solares-eólicos demonstrou possuir eficácia tanto no campo teórico, por meio da análise de modelo conceitual e de mapa de complementaridade energética, quanto no campo prático, a exemplo dos modelos físicos já implementados e testados em outros trabalhos”, disse Edvanil.
Ainda conforme o professor, foram analisados resultados de diversos trabalhos científicos sobre a utilização de sistema renovável para distintas aplicações (irrigação, iluminação, bombeamento de água) e em diversos dimensionamentos, com o objetivo de demonstrar a versatilidade e confiabilidade do hibridismo solar-eólico.
Segundo Edvanil, a popularização de sistemas desse tipo pode ajudar ao Brasil a evoluir em termos de legislação. “Caso uma política pública, regulamentada por meio de lei, determinasse a utilização de placas fotovoltaicas como fonte geradora de energia elétrica para os sistemas de iluminação de todos os órgãos públicos dos poderes executivo, legislativo e judiciário, o impacto positivo seria considerável, além de multifatorial”, infromou o pesquisador.
Para o professor, é importante analisar as políticas públicas vigentes e voltadas para o setor de geração de energia elétrica sustentável na Paraíba, elencando gargalos legislativos existentes e sugerindo possíveis soluções.
“Devemos correlacionar propostas de uso de mini e de microssistema de energia híbrida com as políticas públicas vigentes no estado, fomentando novos incentivos, com o objetivo de demonstrar a viabilidade prática de uma matriz energética mais limpa, renovável, sem evolução de custos e com intuito de atender às necessidades sociais em comunidades carentes e/ou mais isoladas”.
O pesquisador acredita que seria possível gerar energia elétrica para iluminação de escolas, universidades, hospitais, centros de convivências, áreas carentes, regiões remotas e/ou com menor presença do Estado. “Isso poderá também proporcionar maior arrecadação de impostos, em razão da venda de produtos e da prestação de serviços relacionadas ao sistema”.
Segundo o professor, por questões burocráticas, ainda não foi possível concluir o microssistema. O projeto terá continuidade com a ajuda de outros pesquisadores da federal paraibana. “Eles terão que construir uma base e a fixação da haste para que o aerogerador fique em local alto e com maior ventilação, além de instalar e monitorar todo o sistema para utilização em maior larga escala”.
O desenvolvimento do microssistema é orientado pelo professor Raimundo Menezes Júnior. Participam do estudo os pesquisadores Manoel Victor e Gian Carlos, e teve colaboração dos docentes Edson Ramos e Charlie Salvador.