O general da reserva Carlos Alberto Santos Cruz, ex-ministro-chefe da Secretaria de Governo, disse em entrevista à CNN nesta segunda-feira (13) que considerou "infeliz" a declaração de Gilmar Mendes, ministro do STF, de que o Exército estaria se "associando a um genocídio" durante a pandemia de Covid-19.
"O ministro [Gilmar Mendes] foi infeliz na colocação e compete a ele desfazer esse mal-estar", declarou. "É uma colocação que não contribui com instituições ou bem-estar das estruturas. Ele mesmo poderia auxiliar a desfazer isso daí".
Apesar de condenar a afirmação do magistrado, Santos Cruz disse que as Forças Armadas não devem se vincular ao governo de forma institucional.
"[O Exército] é uma instituição permanente. Pelo grande número de militares prestando serviço ao governo, pode haver confusão de que tenha um envolvimento institucional, mas não há", disse. "O Exército, a Marinha, Aeronáutica e o Ministério da Defesa são forças de Estado, auxiliam em políticas públicas, mas não em política partidária e no varejo da política".
Para ele, todos os que têm uma carreira de Estado, como os militares, deveriam deixar os cargos ou passar para a reserva ao aceitar uma função política.
Ele citou a situação do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, que abandonou o posto de juiz para fazer parte do poder Executivo. "[Essas pessoas] têm de passar para a reserva, têm de ser aposentadas proporcionalmente para não haver a vinculação entre a instituição e a função política", opinou.
Alas do governo
Santos Cruz também analisou a relação entre as Forças Armadas e o governo, e negou que haja ala militar — mas afirmou que "nitidamente" há uma ala ideológica.
"Não existe essa ala como grupo organizado, combinando alguma coisa ou coordenando alguma coisa específica", negou. "Mas a ala ideológica existe, ela está presente e a gente percebe isso, é nítido".
Segundo ele, isso pode ser percebido em manifestações, nas redes sociais e até em falas de autoridades. "Existe um posicionamento ideológico forte que tem uma influência forte sobre o presidente", declarou.
Entretanto, ele negou que tenha perdido o cargo por conta desse grupo. "Minha saída não tem nada de ilegal ou absurdo, nenhum governo começa e termina com a mesma equipe de ministros. O comportamento é que foi lastimável em algo que não tem nada de anormal", disse.
O ex-ministro contou que não teve mais contato com o presidente ou qualquer outro ministro desde que deixou o governo. "Nunca mais conversei, mas também não saí magoado. Acho que foi muito bom ter saído quando não se concorda com algumas coisas", disse. "Quando não dá certo, [sair] é bom para os dois. Foi muito bom para mim."
CNN