O Banco Central atualizou sua projeção oficial para o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) em 2020.
A previsão passou de estagnação da atividade econômica, com "crescimento" 0%, para recessão de 6,4% em 2020.
O número foi divulgado no Relatório Trimestral de Inflação (RI), publicado nesta quinta-feira (25).
Segundo a autoridade monetária, a revisão está diretamente associada ao avanço e à duração da pandemia da Covid-19 no Brasil, bem como o prolongamento das medidas de isolamento social. "A magnitude desses dois fatores tem superado significativamente o que se esperava na data de corte do último RI", informa.
O BC prevê que o segundo trimestre deste ano registre a pior queda em toda a série histórica do PIB, iniciada em 1996. "Espera-se que tal contração seja seguida de recuperação gradual nos dois últimos trimestres do ano, repercutindo diminuição paulatina e heterogênea do distanciamento social e de seus efeitos econômicos", diz a autarquia.
A nova estimativa do BC está em patamar próximo à queda de 6,5% que prevê o mercado financeiro, segundo o Boletim Focus, mas pior que a atual projeção oficial do Ministério da Economia, que espera queda de 4,7%. No entanto, a previsão do ME ainda considera que o fim das medidas de isolamento tivessem acontecido antes de junho.
Por outro lado, o BC vê um cenário melhor do que o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI), que projetam tombo de 8% e 9,1%, respectivamente.
O RI traz ainda revisão na projeção para os resultados dos diversos setores econômicos. Para o setor agropecuário, a autoridade monetária o avanço esperado passou de 2,9% para 1,2%. "Essa redução reflete menores expansões nos levantamentos para a safra de grãos e, principalmente, na estimativa para o desempenho da pecuária, em razão dos impactos da pandemia sobre a demanda interna e externa por proteínas", esclarece o BC.
Já para o setor industrial, o recuo estimado passou de 0,5% para 8,5%, como consequência do baixo desempenho em todas as atividades do setor em meio a pandemia. Com o comércio registrando tombo de 10,8%, o setor de serviços deve cair 5,3%.
Ainda na nova avaliação do BC, o consumo das famílias, que é outro componente importante do indicador PIB, deve apresentar queda expressiva de 7,4%. "A projeção para o consumo do governo permaneceu inalterada (0,2%). Apesar da estimativa de significativa perda de receitas, o governo deve preservar gastos essenciais em momento de crise", informa.
Outro ponto afetado será as decisões de investimentos. Assim, a previsão para o desempenho anual da formação bruta de capital fixo (FBCF) passou de queda de 1,1% para 13,8%.
No cenário do comércio exterior, o BC espera que as exportações e as importações brasileiras caiam 8,1% e 11,1%, respectivamente.
"A redução na projeção para exportações resulta da expectativa de menor demanda externa, especialmente por bens manufaturados, em virtude de reavaliação da atividade econômica global. Já a diminuição na estimativa para as importações reflete a redução nas projeções de crescimento da atividade doméstica, em especial da indústria de transformação e da FBCF, com o consequente decréscimo nas aquisições de insumos e de máquinas e equipamentos, bem como a perspectiva de redução do consumo das famílias."
Inflação
O Banco Central revisou também a estimativa para a inflação de 2020. Assim, a projeção para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) mudou de 2,6% para 2,4%. Esse valor usa como base a previsão do mercado financeiro para a taxa básica de juros e o câmbio deste ano.
Já considerando uma Selic e câmbio estáveis, a previsão da autoridade monetária passou de 3% para 1,9%. Ambas as previsões estão abaixo do piso da meta de inflação, estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).Neste ano, o centro da meta de inflação é de 4%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo, podendo oscilar entre 2,5% a 5,5%.
Vale destacar ainda que, seguindo a ata do Comitê de Política Monetária (Copom), a RI também indica que o espaço restante para o uso da política monetária com um novo corte de juros é "incerto e deve ser pequeno". Na última reunião o Copom reduziu a Selic à mínima histórica de 2,25% ao ano.