As obras nos grandes eventos no Rio de Janeiro aproximaram o ex-prefeito Eduardo Paes de empreiteiras. Três já foram alvo da Operação Lava Jato.
Ex-executivos já contaram à Justiça que financiaram campanhas do ex-prefeito com milhões de dólares depositados no exterior.
Paes é réu no processo que investiga o esquema que teria fraudado o contrato da construção de um dos maiores complexos esportivos para as Olimpíadas Rio-2016.
Um banco em Bassau, capital das Bahamas, foi o escolhido para transferências milionárias feitas pela empreiteira Odebrecht.
O beneficiário seria o ex-prefeito do Rio, Eduardo Paes, segundo os executivos da empresa. O núcleo de jornalismo investigativo da Record TV teve acesso aos documentos que comprovariam esses depósitos.
O dinheiro depositado fora do país iria financiar a campanha de reeleição do ex-prefeito. Foi o que contou em delação premiada um ex-executivo da Odebrecht.
Benedito Júnior era o responsável pelo departamento de operações estruturadas da empresa. Na delação premiada ele afirmou: “Na reeleição do prefeito ele me procurou, era uma eleição mais competitiva ele fez um pedido maior, na época eu achei o valor um pouco fora. Tendo em vista a projeção de negócio no Rio de Janeiro, achei que deveria fazê-lo”.
'Nervosinho' e a Odebrecht
A presença da Odebrecht é constante na trajetória de Eduardo Paes na prefeitura do Rio. Essa relação de interesses começa em 2008, quando o ex-governador Sérgio Cabral faz a aproximação entre o candidato e a empreiteira. Foi nessa época que Paes ganha o apelido de ‘Nervosinho‘ nas planilhas da empreiteira.
Segundo Benedito Júnior foi Paes quem pediu dinheiro para campanha teriam sido dois depósitos para a eleição de 2008, de R$ 650 mil e de R$ 510 mil. Quatro anos depois, os valores teriam sido multiplicados.
“Nós achamos no sistema pagamentos na ordem de R$ 11,6 milhões em espécie no Brasil e US$ 5,5 milhões no exterior com duas contas de empreiteiras que depositaram dinheiro de caixa dois”, disse Benedito Júnior.
Os delatores contaram que era Pedro Paulo, atual deputado federal, quem cuidava do caixa dois. No Brasil, os pagamentos sempre em espécie teriam sido entregues em dois endereços indicados pelo então secretário da Casa Civil. No exterior, segundo a Odebrecht, a coordenação também foi feita por Pedro Paulo.
Em sua delação premiada, Leandro Andrade Azevedo, na época diretor de Infraestrutura da Odebrecht, afirmou: “O Pedro Paulo me avisou que estava me mandando uma pessoa para me levar outros pagamentos para eu fazer. Recebi um envelope e um desses depósitos era no exterior somando US$ 5,7 milhões. Eram duas empresas, duas contas correntes”.
O dinheiro saiu de um banco em Portugal direto para uma filial da instituição financeira nas Bahamas. Nesses comprovantes o beneficiário é a Waterford Group, que recebeu US$ 2 milhões (mais de R$ 10 milhões). Outro depósito para 'Nervosinho', em 2012, foi maior: quase US$ 4 milhões (hoje R$ 21 milhões) para a Siwa Capital.
“A parte que foi paga no exterior a gente tem os comprovantes das contas fornecidas pelo Pedro Paulo”, disse Benedito Júnior.
Copa e Olimpíadas
Ao vencer a reeleição, Eduardo Paes tinha dois trunfos para negociar com as grande empresas. A Copa do Mundo e as Olimpíadas exigiam obras transformadoras na cidade. É nesse momento que Paes vira protagonista na relação com as empreiteiras.
Foi o que aconteceu na construção do Complexo de Deodoro que recebeu 11 modalidades olímpicas.
A suspeita de fraude nas obras feitas aqui levaram Eduardo Paes ao primeiro indiciamento por corrupção passiva.
Segundo o Ministério Público Federal, o ex-prefeito intermediou a criação de um consórcio de empreiteiras fraudando um atestado para erguer o complexo esportivo.
Segundo os procuradores, Paes já havia planejado a escolha da empresa direcionando o resultado da concorrência pública.
O procurador da República Fernando Aguiar afirmou: “ A Queiroz Galvão se habilitou e não tinha atestado para arena multiuso. Só quem tinha era a OAS. A OAS foi chamada para um consórcio só para dar esse atestado. Só por isso só é uma fraude”.
Nessa mesma obra, um escândalo ainda maior.
A retirada de entulho para construir as arenas teria sido superfaturada. A previsão era um milhão de toneladas de terra.
E as irregularidades nas obras que custaram R$ 647 milhões, não param aí. Para justificar o transporte de tanto resíduo, o consórcio teria falsificado assinaturas de caminhoneiros.
O marido de uma mulher foi usado como laranja. Ela falou ao Jornal da Record:
“Ele se assustou de cara porque tipo, ele não assinou aqueles papéis”, disse. “Aí ele foi e mostrou habilitação, a assinatura dele. Ele assinou para poder mostrar tudo direitinho e que realmente não era a letra dele.”
Em depoimento ao Ministério Público Federal, o homem que é motorista profissional, disse que nunca trabalhou em Deodoro.
Parte do dinheiro destinado ao serviço de terraplanagem foi bloqueado pela Justiça. O que ainda não foi possível rastrear é a montanha de terra retirada de Deodoro.
“Até hoje a gente não sabe onde esses 2 milhões de terra foram parar”, disse o procurador Fernando Aguiar. “Se foi reaproveitado na obra ou outra obra da Queiroz Galvão ou se foram descartados em outro aterro."
A empreiteira Odebrecht informou que colabora com a Justiça. A OAS disse que fechou acordo de leniência e que está à disposição da Justiça para prestar esclarecimentos. A empreiteira Queiroz Galvão, o ex-prefeito do Rio de Janeiro Eduardo Paes e o deputado federal Pedro Paulo não retornaram o contato do Jornal da Record.