A Organização Mundial de Saúde (OMS) anunciou em coletiva de imprensa nesta segunda-feira (25) que decidiu interromper os estudos com hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19.
A decisão veio após estudo publicado na semana passada, apontando a ineficácia do medicamento e no aumento de riscos à vida dos pacientes.
O estudo em questão, publicado na revista Lancet, analisou 96 mil pacientes, divididos em grupos que receberam apenas o tratamento convencional, sem a hidroxicloroquina ou cloroquina, quem recebeu a droga e quem a recebeu em conjunto com um macrólido, um tipo de antibiótico como a azitromicina. Não foram constatados benefícios, mas houve uma percepção do aumento de riscos cardíacos como consequência do medicamento.
Diante desses dados, a OMS interrompeu uma parte do teste Solidarity, conduzido em 10 países, que visava determinar a eficácia da cloroquina e da hidroxicloroquina contra a Covid-19. A organização nota que continuará experimentando outras drogas do experimento, incluindo o Remdesivir (criado para uso contra Ebola), o Lopinavir/Ritonavir (utilizado contra o HIV) e o Interferon beta-1ª (usado para tratar esclerose múltipla).
A OMS também reforça que a decisão de interromper os testes com a hidroxicloroquina não significa que ela não é segura para o tratamento de outras doenças para os quais ela já era recomendada, como malária e lúpus. Para essas condições, a organização continua recomendando o remédio normalmente.
A questão da cloroquina se tornou polêmica nos últimos tempos. O medicamento foi um dos primeiros apontados como possível tratamento contra Covid-19 após resultados animadores realizados "in vitro" e pequenos estudos conduzidos com pacientes na China e na França. Isso fez com que líderes políticos e autoridades de saúde pelo mundo se animassem e passassem a definir protocolos de uso da droga no tratamento da doença, mesmo sem estudos mais aprofundados que atestassem sua eficácia. No entanto, posteriormente, esses estudos começaram a aparecer, e justamente o mais abrangente entre eles não demonstrou benefícios e aumento de riscos.
A cloroquina também se tornou um ponto de desentendimento entre o presidente Jair Bolsonaro e os ex-ministros da Saúde Henrique Mandetta e Nelson Teich. O chefe do executivo desejava a recomendação de um protocolo de uso do medicamento entre pacientes com sintomas leves, antes de eles precisarem de internação. Após o afastamento de ambos, o ministério implementou esse protocolo.