Os Estados Unidos planejam um grande esforço envolvendo mais de 100 mil voluntários e cerca de seis das mais promissoras candidatas à vacina contra o novo coronavírus. O objetivo, segundo os cientistas que lideram o programa, é cumprir a meta de entregar uma imunização segura e efetiva para a doença até o final deste ano.
O projeto reduzirá o tempo de desenvolvimento de uma vacina, que geralmente é de 10 anos, e vai testá-la em questão de meses, em uma demonstração da urgência para conter uma pandemia que já infectou mais de 5 milhões de pessoas, matou mais de 335 mil e abalou economias em todo o mundo.
Para fazer isso, os principais fabricantes de vacina concordaram em compartilhar dados e emprestar a utilização de sua rede de testes clínicos aos concorrentes, caso sua própria candidata a vacina fracasse, afirmam os cientistas.
A partir de julho, candidatas que demonstrarem segurança em estudos iniciais pequenos serão testadas em larga escala — 20 mil a 30 mil indivíduos para cada vacina. De acordo com o especialista em vacina do Fred Hutchinson Cancer Center, Larry Corey, entre 100 mil e 150 mil pessoas podem estar envolvidas nos estudos.
O esforço para a vacina é parte de uma parceria público-privada intitulada “Acelerando as intervenções terapêuticas e as vacinas para Covid-19”, anunciada no mês passado. As vacinas, que são usadas em pessoas saudáveis, são tipicamente testadas em etapas sucessivas, começando com testes em animais.
Efetividade dos testes
Os testes em humanos começam com um pequeno experimento de segurança em voluntários saudáveis, seguido de um estudo maior para determinar a dosagem correta e ter uma primeira leitura da eficácia. O estágio final consiste em testes de larga escala em milhares de pessoas. Só após isso um desenvolvedor de vacina se compromete com a fabricação de milhões de doses.
Na era do coronavírus, muitas dessas etapas serão sobrepostas, particularmente nos estágios do meio e nos estágios finais da testagem, disseram os cientistas. A abordagem tem seus riscos, pois algumas questões de segurança aparecem apenas em testes de larga escala.
Uma vacina moderadamente efetiva pode ser testada em até seis meses se houver uma grande diferença entre o grupo que tomou a vacina e o que tomou placebo, disse Corey. Para uma vacina altamente efetiva, os testes podem levar de nove meses a um ano.
O governo dos Estados Unidos destinou bilhões de dólares para ajudar fabricantes a produzirem doses de vacina que podem jamais se mostrarem bem-sucedidas.
Finalistas
Para obter a resposta mais rápida, as vacinas serão testadas em profissionais de saúde e comunidades em que o vírus ainda está se espalhando para descobrir se elas reduziram os casos novos de Covid-19.
Segundo o diretor do Instituto Nacional de Saúde dos EUA (NIH, na sigla em inglês), Francis Collins, a capital do país, Washington — que ainda não chegou ao pico — é um local de teste provável. De acordo com ele, os testes também poderão ser realizados no exterior, inclusive na África, onde o vírus começa a se disseminar.
A vacina da Moderna, desenvolvida em parceria com o NIH, será a primeira a entrar em testes de larga escala em julho, e pode ser acompanhada por uma vacina das britânicas Universidade de Oxford e AstraZeneca.
Na quinta-feira (21), o governo dos EUA afirmou que vai desembolsar US$ 1,2 bilhão para garantir 300 milhões de doses da vacina de Oxford.
A candidata da Moderna já está seguindo para os testes intermediários em humanos. As vacinas de Johnson & Johnson, Sanofi e Merck estão um mês ou dois atrás das pioneiras e “podem ser acrescentadas no decorrer do verão [no Hemisfério Norte]” após os testes iniciais com humanos, acrescentou Collins.