A Prefeitura de São Mamede, cidade de quase 8 mil habitantes a cerca de 283 km de João Pessoa, anunciou na segunda-feira (18) a distribuição de kits de medicamentos para pacientes com suspeita ou confirmação de contágio da Covid-19. Entre as substâncias ofertadas, consta a hidroxicloroquina. Na lista de medicamentos fixada nos kits constam outras nove substâncias, além a cloroquina.
O uso da hidroxicloroquina entrou na pauta política no Brasil. O presidente Jair Bolsonaro defende o medicamento publicamente, mas a eficácia do remédio no tratamento da Covid-19 não foi confirmada pela comunidade científica. Dois ministros da Saúde, Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, já deixaram o governo após contrariarem o presidente sobre o uso do remédio. Na Paraíba, a Prefeitura de Campina Grande publicou um protocolo autorizando o uso da cloroquina.
A Secretaria de Estado de Saúde (SES) da Paraíba informou por meio de sua assessoria que a orientação do Centro de Evidências Científicas da pasta é de que o medicamento não deve ser usado para tratamento da Covid-19, principalmente em casos de pacientes de quadro clínico leve ou moderado. No entanto, segundo a pasta, os médicos são soberanos em relação a receitar ou não a cloroquina para pacientes com coronavírus. (Leia mais ao final da reportagem)
O Conselho Regional de Medicina da Paraíba (CRM-PB) informa que a recomendação do Conselho Federal de Medicina é de que o uso da cloroquina seja avaliado pelo médico a depender do caso. Bruno Leandro de Souza, conselheiro e membro da Comissão de Enfrentamento ao Coronavírus do CRM-PB, informou que está apurando a forma como está sendo feita a distribuição em São Mamede.
O prefeito da cidade, Umberto Jefferson (DEM), explicou que cada kit entregue ao paciente é montado a depender de cada caso, levando em consideração as prescrições feitas pelo médico e o consentimento do próprio paciente.
No primeiro dia de distribuição do “kit Covid-19” em São Mamede, que tinha quatro casos confirmados da doença até a segunda-feira (18) e nenhuma morte, foram entregues oito kits com medicamentos. Segundo o prefeito, em nenhum deles constava a cloroquina.
“Cabe um esclarecimento. As postagens feitas por mim dão a entender que estamos distribuindo esse kit para todo mundo, com todas as substâncias, mas não procede. Sou médico, estou gestor, estamos seguindo todos os protocolos e prescrições médicas. A utilização da cloroquina depende da prescrição médica e da assinatura de um termo de consentimento do paciente”, explicou o prefeito.
'Kit Covid-19' foi entregue a oito pacientes no primeiro dia de distribuição pela Prefeitura de São Mamede — Foto: Divulgação/Umberto Jefferson
Kit básico com 10 remédios
O “kit Covid-19” básico consta medicações que, segundo o prefeito Umberto Jefferson, não têm tantos efeitos colaterais e não geram riscos ao pacientes. Ele explica que todos os pacientes confirmados ou com suspeita de Covid-19 estão sendo acompanhados por uma equipe multidisciplinar da saúde do município, que monitoram a evolução do quadro do paciente.
A Prefeitura inclui no kit os seguintes medicamentos:
- Azitromicina 500 mg
- Ivermectina 6 mg
- Dipirona 500 mg
- Prednisona 20 mg
- Zinco 66 mg
- Vitamina D
- Nitazoxanida 500 mg
- Hidroxicloroquina 400 mg
- AAS 100 mg
- Ambroxol 30 mg/5 ml
"Essa gama de medicações que estão sendo utilizados em vários locais no Brasil, usado em São Paulo, pegamos todos os protocolos, e medicamentos disponíveis. Isso não quer dizer que o médico use todos eles, mas a prefeitura vai disponibilizar todos”, explicou o prefeito.
A Secretaria de Saúde alerta para as contraindicações da cloroquina. “O uso de hidroxicloroquina e cloroquina deve ser formalmente contraindicado para o tratamento de Covid-19, nos casos leves, principalmente, devido aos diversos efeitos tóxicos que podem causar nos pacientes, sem a devida monitorização hospitalar diária”, informa o protocolo clínico da SES “Uso de Hidroxicloroquina nos casos leves/moderados da Covid-19”.