Em sua primeira entrevista coletiva após assumir o Ministério da Saúde, Nelson Teich afirmou nesta quarta-feira (22) que pretende divulgar em uma semana um conjunto de orientações para que estados possam decidir sobre a flexibilização das medidas de isolamento social.
Segundo Teich, a intenção é dar critérios para que os governadores possam fazer avaliação da gravidade local da situação e da capacidade do sistema de saúde para decidir sobre a retomada da atividade econômica.
O novo ministro, no entanto, se alinhou ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na defesa de uma "porta de saída" do isolamento. "O afastamento é uma medida absolutamente natural e lógica na largada, mas ele não pode estar afastado de um programa de saída", disse.
Teich argumentou que estudos falam que, para a doença começar a regredir, ela precisaria atingir cerca de 70% da população caso não seja desenvolvida uma vacina. Para o ministro, no ritmo atual, com o isolamento, isso só aconteceria após mais de um ano. "É impossível um país ficar um ano, um ano e meio fechado".
O novo ministro da Saúde ainda disse considerar que o Brasil, pelo número de mortes em proporção ao número de habitantes, é um dos países que "melhor performa" em relação à COVID-19. Teich ponderou preocupações com o sistema de atendimento, mas colocou como algo intrínseco à atual pandemia que não seja possível "se adaptar a tempo".
"Os sistemas de saúde não foram feitos para ter ociosidade. Saúde é muito caro. Quando você tem algo que sobrecarrega o sistema, você não consegue se adaptar a tempo", disse.
Teich voltou a dizer que tem intenção de adotar uma testagem por amostragem. Trata-se de um modelo similar ao das pesquisas eleitorais, em que se consultam as pessoas de acordo com as suas características em proporção à existente na população brasileira. Se determinado estado possui 10% da população brasileira, 10% dos testes teriam que ser feitos neste estado. A intenção é identificar um padrão de comportamento do vírus no país como um todo.
Política
O ministro-chefe da Casa Civil, Walter Braga Netto, citou o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), como um exemplo do que está sendo estudado. Leite adotou no estado uma política de liberar prefeitos a retomar atividades nas cidades em que a situação estiver sob controle em relação ao número de casos e capacidade de atendimento.
Em sua fala, o ministro Nelson Teich afirmou que a diretriz também incluirá parâmetros de aumento de casos para que os governadores saibam se for necessário recuar e retomar medidas de isolamento social.
Os ministros ponderaram que não haverá uma receita geral para todos os estados."O Brasil é gigante e heterogêneo, não dá para ter a mesma medida em cada lugar", argumentou Teich.
Presente à coletiva, o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), ressaltou decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que deu autonomia aos estados para decidirem sobre isolamento.
Ibaneis também defendeu a sua decisão de ir em sentido contrário ao de Eduardo Leite e promover uma abertura geral. Segundo o emedebista, a formatação do Distrito Federal, em que moradores de cidades-satélites exercem suas atividades em Brasília, impede que isso seja adotado.
Prioridades
Teich listou três eixos que serão prioridade neste primeiro momento, cerca de uma semana após ser anunciado para o lugar do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta. Além do estabelecimento de diretrizes de isolamento, ele citou a carência de informação e a estrutura de logística.
A logística foi o ponto enfatizado pelo ministro ao anunciar a escolha do general Eduardo Pazuello para ser seu secretário-executivo, ocupando o segundo cargo mais importante da estrutura do Ministério da Saúde. "A impressão que eu tenho é que temos que ser muito mais eficientes do que a gente é hoje. Estamos falando de logística, de compra, de distribuição e ele [o novo secretário-executivo] é muito experiente nisso".
Teich disse que a carência de conhecimento sobre o comportamento da COVID-19 e de seus desobramentos é "crítica". "Quando você sabe pouco, a sua possibilidade de decidir de forma estruturada e sólida é pouca", disse.
O ministro disse estar preocupado com uma "demanda reprimida" de doentes que não estejam procurando o sistema de saúde por medo de contaminação e que possam provocar um aumento da busca pelo atendimento após a crise. Teich também ponderou que a crise econômica tende a acarretar a diminuição do número de brasileiros com planos de saúde e que, portanto, passariam a ter de se consultar no sistema público.