Se a era do politicamente correto nos deixar alguma herança benigna, apostaria no combate ao bullying. Não é lacração, não é mimimi. É coisa séria. O cuidado que devemos ter com a sanidade mental e emocional de nossas crianças compensa qualquer picuinha identitária a que estamos submetidos.
A tese “incorreta” de que o sofrimento ajuda a moldar a força e o caráter na infância é em quase tudo desmentida pela psicanálise – e pelo bom senso. Os adultos têm a obrigação de vigiar e impedir as pequenas maldades típicas dos pequenos e adolescentes.
Um apelido, a insistência em estigmatizar algum amiguinho por defeitos físicos, limitações ou incapacidades pode ser fatal. Não temos a capacidade de medir ou sentir o sofrimento de pequeno ser humano indefeso.
A história de Quaden Bayles é exemplar. Viralizou o vídeo em que o garoto de 9 anos aparece chorando e implorando à sua mãe que o ajudasse a morrer. Ele chega a pedir uma corda para se enforcar. Ele e a mãe sofrem de nanismo, e o menino não tinha mais forças para enfrentar os coleguinhas que insistem em chamá-lo de “anão”.
Sim, Quaden é um anão. Por que ele não consegue lidar com isso sem externar tamanha dor e desespero? Não sabemos. Mas já temos conhecimento e convicção suficientes para saber que devemos educar a todos para o respeito e a alteridade. Uma criança aos prantos diz: “só quero me esfaquear no coração”. Não custa parar de machucá-la.