O propósito de Diógenes Antônio da Silva, de 17 anos, é causar impactos positivos nas vidas das pessoas. Para o jovem, exercendo a função de médico, ele poderá fazer isso diretamente. O primeiro passo para alcançar o objetivo ele acredita que já deu: foi aprovado do curso de medicina da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Para a família, o momento foi de felicidade, mas também de preocupação sobre como o garoto se sustentaria fora de casa.
Diógenes nasceu em São Paulo. Ele se mudou para Sousa, no Sertão paraibano, em 2009. Atualmente, mora com a mãe e o irmão velho. Por mês, a família sobrevive com meio salário mínimo e o benefício do Bolsa Família.
O jovem realizou um sonho compartilhado entre as pessoas que o amam. “A preocupação veio porque eu fiquei sem saber o que faria. A gente é acostumado a ver que o pobre nunca vence. Eu tô fazendo isso, não só eu como muitos, porque é um ato de resistência”, pontuou.
Para cursar medicina, ele terá que se mudar para João Pessoa, capital do estado. A distância entre as cidades é de mais de 440 quilômetros. Diógenes não enfrentará apenas os desafios de conhecer um novo mundo, mas também o de se sustentar nele.
Para ajudar o garoto, as amigas da mãe criaram uma campanha que foi divulgada em redes sociais pedindo ajuda de roupas, produtos de higiene e itens que ele precisará durante o curso, como o jaleco.
Muitas pessoas se sensibilizaram com a história do jovem e já começaram a fazer doações. Diógenes já ganhou um jaleco e roupas novas para frequentar as aulas na universidade.
Diógenes agradece pelo movimento de generosidade que defende ter acontecido de forma inversa. Ele se permitiu que as pessoas impactassem positivamente na vida dele.
“Tomou [a campanha] uma proporção que eu jamais imaginaria. Eu jamais esperaria isso. Estou muito agradecido”, explicou.
Sem ambição, ele que não sabe de quanto precisa para se sustentar, só espera receber o suficiente para viver as novas experiências que o ambiente acadêmico reserva.
“Estou recebendo esse auxílio e espero que seja suficiente. Acho que vai ser. Eu tô muito animado, muito ansioso. Sei que minha mãe fará o que ela puder”, concluiu.
O sentimento de gratidão é compartilhado pela mãe do futuro médico, Raimunda Nonata da Silva, de 56 anos. Ela não teve oportunidade de estudar, teve que trabalhar mais cedo do que esperava, mas fez questão de garantir a formação do filho.
“Muito grata por tudo que estão fazendo pelo meu filho. Ele merece. Foi esforço dele. Estou muito orgulhosa. Eu não sei se ria ou se chorava de tanta felicidade e orgulho. Valeu a pena”, declarou.
Diógenes estudava para o Enem na madrugada
Diógenes foi aprovado em 8º lugar no curso de medicina, por meio das cotas destinadas para candidatos autodeclarados pretos, pardos ou indígenas, com renda familiar bruta per capita igual ou inferior a 1,5 salário mínimo e que tenham cursado integralmente o ensino médio em escolas públicas.
Ele alcançou uma média geral de 743,52 pontos no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e somou 900 pontos na redação da prova.
O jovem estudou a vida inteira em escolas públicas. No ensino médio, ele estudou no Instituto Federal da Paraíba (IFPB), no campi de Sousa. Na unidade educativa, ele cursava o ensino médio pela manhã e o curso técnico de informática no turno da tarde.
Com o dia inteiro preenchido, ele precisava se dedicar aos estudos para fazer o exame na madrugada. Durante um ano, ele estudou por, pelo menos, quatro horas enquanto todos dormiam.
Mesmo com tanto esforço, ele não acreditava que realizaria o sonho. Ele sempre foi apoiado pela família e pelos amigos, que não se surpreenderam com o resultado.