O ex-secretário executivo de turismo do Estado da Paraíba, Ivan Burity, contou em delação premiada ao Ministério Público da Paraíba (MPPB) que fazia viagens fretadas de avião para buscar dinheiro de propina em outros estados. Os recursos eram usados para pagar contas da campanha eleitoral de 2014.
A colaboração faz parte das investigações da Operação Calvário, que investiga uma suposta organização criminosa que teria desviado recursos públicos da saúde e educação.
O relato dele é semelhante ao da ex-secretária de finanças do município de João Pessoa e de administração do Estado da Paraíba, Livânia farias, que também falou sobre voos feitos para buscar dinheiro fora do estado.
Ivan foi preso em outubro do ano passado na quinta fase da Operação Calvário coordenada pelo Gaeco. Ele é apontado como recebedor de propinas, principalmente nos contratos da educação, junto a empresas que forneciam materiais didáticos para as escolas públicas do estado.
Segundo o Gaeco, Ivan facilitava a contratação das empresas, mediante contratos fraudulentos e consequente recebimento de propinas.
Em um dos trechos da delação, Ivan contou que viajou para Curitiba no primeiro semestre de 2012, por determinação de Livânia Farias, para receber R$ 1 milhão de uma empresa que tinha contratos com a Secretaria de Educação do Estado.
Em outra viagem que aconteceu 2014, ele disse que transportou para a Paraíba R$ 800 mil repassados pela mesma empresa. O G1 tentou entrar em contato com a organização, mas até as 18h40, não recebeu um posicionamento.
Ainda em 2014, Ivan disse que foi para Fortaleza para buscar R$ 1,2 milhão de uma empreiteira com obras no Governo do Estado. Parte do valor, R$ 300 mil, foi usada “para saldar compromisso urgente de campanha”. O restante, R$ 900 mil, teria sido entregue ao então vice-governador da Paraíba, Rômulo Gouveia, que faleceu em maio de 2018.
Ivan Burity confirma que fazia viagens, em voos fretados, para pegar propina
Veja trechos da delação de Ivan Burity ao Ministério Público
- Ivan Burity: Nós fomos a um aeroclube e com bastante facilidade, porque a gente foi até o hangar e não passamos por nenhum tipo de abordagem oficial. Eu fiquei nesse hangar com o dinheiro e depois um carro veio e me pegou e já me levou pra pista onde o jato estava.
- MP: E aí na sequência aqui em relação ao episódio de Rômulo Gouveia, como relatado aqui, 'seguimos para a casa de Rômulo e lá recebi por Leandro uma determinação de separar R$ 300 mil para saldar de compromisso urgente de campanha'. O senhor entregou R$ 300 mil pra Leandro?
- Ivan: R$ 300 mil de R$ 1,2 milhão.
- MP: Sabe que compromisso era esse?
- Ivan: Eu não sei. Talvez o avião […] não foi especificado. Foi aquela coisa pra não entregar tudo a Rômulo. Como a minha missão era amansar Rômulo, Rômulo tinha pedido R$ 1,5 milhão. Eu já tava levando R$ 1,2 milhão. Disse que ia tirar trezentos e que depois ele arrumava mais.