Em seu pronunciamento ao vivo nesta tarde, após os ataques do Irã a uma base militar americana no Iraque, como resposta à morte de Soleimani, o presidente Trump não conseguia disfarçar seu ar triunfal de vitória. E uma aura merecida.
Toda a cena exalava força e unidade, com o tom sério da junta militar e do vice-presidente aguardando a chegada do comandante-em-chefe, que entrou pela porta central e, antes mesmo de dar boa tarde aos presentes, afirmou que o Irã jamais terá uma bomba atômica enquanto ele for o presidente.
O recado não poderia ser mais claro. A essência da estratégia de Trump com o Irã é o resgate da política de dissuasão, chamada de "deterrence" nos Estados Unidos, e que foi abandonada pelo presidente Obama. Este, como não deixou de alfinetar Trump em sua fala, preferiu a política do suborno, na esperança de que liberar recursos bilionários para os aiatolás xiitas fizesse com que abandonassem as pretensões bélicas na região. Ledo engano.
Trump foi duro na avaliação do fracasso dessa política, ao frisar que os pagadores de impostos americanos bancaram os atos terroristas iranianos, graças às trapalhadas da gestão anterior. Essa mensagem vai de encontro à narrativa predominante na mídia, de que a escalada da violência ocorreu por conta do abandono do acordo nuclear.
Para esses formadores de opinião, todos os atos terroristas da milícia iraniana comandada por Soleimani se devem ao endurecimento de postura do governo americano, que se retirou do acordo e impôs sanções econômicas. É como culpar o fim do pagamento de resgate pelo crime do sequestrador!
As intenções do regime ditatorial iraniano sempre foram claras, ao menos para quem possui olhos para enxergar. Desde 1979, quando a covardia e inoperância do democrata Jimmy Carter permitiram o sucesso da revolução dos aiatolás, o regime iraniano nunca escondeu que considera os Estados Unidos o Grande Satã, e que se puder vai “varrer Israel do mapa”.
Sob a liderança de Soleimani, o Irã disseminou o terror pela região, financiando, armando e treinando grupos terroristas como o Hezbollah no Líbano, além de avançar sobre o Iêmen, a Síria e o próprio Iraque, cujo governo já sofre forte influência do vizinho. Trump aproveitou para resumir o currículo daquele cuja eliminação autorizou, o que também foi importante para a guerra de narrativas. Afinal, muitos na imprensa, além de vários democratas, recusavam-se a chamar o “general” de terrorista.
O ódio a Trump é tão grande nesse meio "progressista" que vários chegaram ao absurdo de basicamente defender o terrorista morto como se fosse a vítima, e tratar o governo americano como o terrorista na história. Tamanho tem sido o grau de inversão de valores atualmente, que não é difícil explicar o descrédito dessa turma perante o público.
Em um mundo dicotômico como o da Segunda Guerra Mundial, com os aliados de um lado e os fascistas do outro, era mais fácil defender o certo e o errado de forma objetiva. Foi a época em que a ONU foi criada. Tal clareza moral, porém, foi substituída, com o tempo, pelo atual relativismo exacerbado, em que, em nome da "imparcialidade", ninguém mais deve tomar partido.
Nesse contexto é que tantos se mostraram incapazes de reconhecer o óbvio: os americanos representam as democracias liberais do mundo livre e os aiatolás a ditadura fanática e opressora xiita. Agressor e agredido viraram conceitos muito elásticos, confusos, e o cinza absorveu qualquer chance de divisão entre preto e branco.
A ONU adotou um discurso acovardado, politicamente correto, incapaz de julgar evidentes agressores. Ela não se mostrou à altura do desafio de combater o terrorismo islâmico, por exemplo, pois lhe falta convicção sobre a própria existência do inimigo. Quem olha para a ONU como esperança, portanto, está sendo ingênuo e romântico. Se dependesse da ONU, falaríamos todos russo ou reverenciaríamos Alá hoje, ou alguma mistura dessa distopia assustadora!
Eis, então, o que Trump representa: clareza moral. Da mesma forma que Ronald Reagan antes dele, não por acaso também ridicularizado pelos "intelectuais" como um "cowboy beligerante e imbecil", que levaria o mundo a uma guerra mundial nuclear. O resultado prático foi o debacle do império soviético e a queda do Muro de Berlim, em boa parte graças a essa postura firme de Reagan e sua "guerra nas estrelas", que elevou o orçamento militar americano e colocou enorme pressão sobre seus inimigos. A Guerra Fria acabou com o republicano corajoso e "simplista", enquanto muitos jornalistas e professores adotavam postura covarde de "neutralidade", quando não eram simpatizantes declarados ou velados do lado comunista.
Não há garantias de que essa política de dissuasão vai funcionar novamente. Claro que pode dar errado. Claro que pode passar do ponto e deixar o adversário sem uma porta de saída, além de regimes fanáticos sempre poderem optar pelo suicídio, desde que tocando o caos no mundo no processo.
Para a dissuasão ser eficaz é preciso alguma racionalidade do outro lado, e também uma ameaça crível do lado de cá. O fato de Trump ser intempestivo, imprevisível e até meio "doido" joga a seu favor nesse caso. E quando ele manda eliminar o cérebro do terror iraniano, ele demonstra que fala sério e tem cojones, aquilo que falta à imensa maioria dos líderes atuais.
No xadrez da geopolítica no Oriente Médio, Trump foi ousado, sem dúvida, e tomou riscos. Levou à conclusão apressada e histérica de muitos que odeiam o sujeito e seu estilo, e com isso perderam a capacidade de fazer uma análise mais isenta e afastada, sem tanta paixão. Falaram logo na entrada da Rússia no confronto, em ataques terroristas pelo mundo todo e mirando em civis americanos como alvos, em Terceira Guerra Mundial. Os mais sensatos, sem descartar os perigos, pediram calma. E, até aqui, mostraram-se certos.
As autoridades iranianas jogaram para sua plateia doméstica, alegando que reagiram com coragem e deram um "tapa na cara" do Satã. Na prática, lançaram vários mísseis sem causar uma única morte de americano, exigência colocada por Trump como linha a jamais ser cruzada. E já sinalizaram que concluíram, com isso, a resposta. Ou seja, estão buscando apaziguar os ânimos, reduzir a tensão, pois sabem que se passarem do ponto será o fim do regime.
Enquanto isso, Trump ostenta o troféu da morte de Soleimani, que representa duro golpe na estratégia terrorista do Irã, e pode alegar que deu um recado incisivo aos aiatolás. Também anunciou o aumento das sanções econômicas ao Irã, e conclamou os demais países da OTAN a se unirem aos Estados Unidos na pressão, para que o Irã possa mudar de postura e florescer economicamente num ambiente de paz.
Até a analista que acompanhava ao vivo na CNN, uma emissora claramente contrária a Trump, teve de admitir que o ar do presidente era de vitória, o mesmo para o brasileiro Guga Chacra, da GloboNews, que tampouco nutre simpatias pelo presidente republicano, para dizer o mínimo. A bola estava com Trump, e este a rebateu com força para o lado iraniano, que agora precisa pensar no que fazer.
Não sabemos os próximos passos, e tudo é possível. Mas, ao que tudo indica, se o senso de sobrevivência dos aiatolás falar mais alto, eles terão de regressar à mesa de negociações, só que numa posição bem mais enfraquecida. Barack Hussein Obama fez um acordo de pai para filho com o Irã. De pai covarde para filho mimado. Trump deu umas palmadas no rebelde, para desespero da mídia politicamente correta, que esquece que o castigo e a ameaça de uso de violência costumam produzir bons resultados.
O futuro é incerto, a região é uma confusão tremenda, e não haverá paz tão cedo por lá. Dito isso, Trump fez uma jogada de mestre, e deu um xeque nos aiatolás. Se foi um xeque-mate, só o tempo dirá. Mas certamente é um avanço frente ao enxadrista Obama, que sacrificava seus bispos e torres em troca de nada…