Na delação feita por Livânia Farias nas investigações da Operação Calvário, a ex-secretária de finanças do município de João Pessoa e de administração do Estado da Paraíba apontou a participação de deputados estaduais e federais do estado no suposto esquema de desvio de recursos públicos para financiamento de campanhas eleitorais.
Livânia detalha ainda a movimentação financeira entre os parlamentares e afirma que o ex-governador da Paraíba, Ricardo Coutinho, teria comprado apoio político de parlamentares por meio do deputado federal Efraim Filho (DEM). Ela também citou uma compra superfaturada na área de educação, que teria sido feita para pagar propina aos deputados estaduais Edmilson Soares, Tião Gomes, Branco Mendes, Genival Matias e Lindolfo Pires, além de Arthurzinho, suplente de deputado estadual e filho do conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE), Arthur Cunha Lima.
Arthur Cunha Lima foi afastado durante a 7ª fase da Operação Calvário, a Juízo Final, que resultou também no afastamento de outro conselheiro. O governador da Paraíba, João Azevêdo, e o ex-governador do estado, Ricardo Coutinho, foram alvos na mesma fase da investigação.
Ex-governador Ricardo Coutinho (PSB) e governador João Azevêdo (sem partido) são alvos da Operação Calvário — Foto: Junior Fernandes/Secom-PB – André Lúcio/Secom-PB.
Veja trechos transcritos da colaboração de Livânia Farias ao MP
Em depoimento, Livânia detalha a participação de cada deputado e os valores que eles teriam recebido do ex-governador da Paraíba, Ricardo Coutinho, para a compra de apoio político à reeleição de 2014.
- MP: e com relação a Efraim Filho?
- Livânia: Efraim Filho é de 2014. Eu soube através de Ivan que havia feito um acordo para que ele ficasse com o apoio da chapa da gente. Seria pago um valor de R$ 12 milhões. Ivan fez um repasse pra ele, Ivan me disse, de R$ 1 milhão no dia do acordo […] depois o que foi repassado por mim e por Leandro foi R$ 250 mil […].
- Livânia: O que é que Ivan fazia? Ele conversava com o dono da empresa […]. Ele negociava o percentual de quanto era. Ele pegava o dinheiro. Ele trazia voos fretados com dinheiro. Em 2012 teve um voo que veio do Rio de Janeiro. Ele foi pegar um R$ 1 milhão no Rio de Janeiro que era da Cruz vermelha para as eleições de 2012. O valor foi pra casa de uma cunhada minha. Em 2014 aconteceu uma outra viagem [..] Esse dinheiro foi gasto na campanha de 2014.
- Livânia: Eu recebi uma determinação do governador de que efetuasse um pagamento de um produto lá [..] em 2018, no valor de R$ 1 milhão.
- MP: Determinação de Ricardo Coutinho?
- Livânia: Exatamente. Que esse [produto] compra e vende para outras pessoas. A conversa ia ser com Hugo e Nabor, Hugo ligou pra mim diversas vezes que queria conversar comigo. Nabor veio conversar comigo e foi autorizado o valor de R$ 500 mil pra ser resolvido. Os outros R$ 500 mil eu não sei o que foi resolvido.
- Livânia: Era um produto que o valor daria mais de 12 milhões. Eram R$ 4 milhões que teria um percentual. Na minha conversa […] 25% passava para Arthuzinho. Os restantes R$ 1,6 milhões pra Edmilson Soares pra que fossem divididos com os deputados que estavam com ele. Foi também o governador que autorizou e disse que fosse dividido.
- MP: Tem a lista desses deputados aí?
- Livânia: Tenho. Lindolfo Pires, Tião Gomes, Genival e Branco Mendes. Foi paga uma parte a Edmildon e uma pequena parte a Arthuzinho. Quando ele [Arthuzinho] soube que foi pago essa parte maior a Edmilson, chegou uma liminar na Secretaria de Educação proibindo o pagamento a essa empresa.
- MP: De quem era essa liminar?
- Livânia: De Arthur Cunha Lima [conselheiro do TCE]
O que dizem os citados
O deputado federal Efraim Filho negou que recebeu a quantia de R$ 2 milhões citada por Livânia e que não existem provas que fundamentem as acusações dela. Ele disse também que colocou os sigilos fiscal, telefônico e bancário à disposição da Justiça.
O deputado estadual Branco Mendes (Podemos) negou ter recebido dinheiro de propina. Ele classificou as acusações feitas por Livânia como irresponsáveis.
O deputado Lidolfo Pires (Podemos) também negou ter recebido os recursos e disse que tem um patrimônio compatível com a renda de deputado.
Genival Marias (Avante) estranhou a citação do nome dele para ex-secretária e disse estar à disposição da Justiça para colaborar com as investigações. Ele negou ter recebido quaisquer tipos de recursos ilícitos.
O deputado Tião Gomes (Avante) disse que está tranquilo e afirmou que nunca tratou sobre recebimento de recursos com o deputado Edmilson Soares.
Já Edmilson Soares, disse que as acusações de Livânia são levianas e que está à disposição da Justiça para qualquer esclarecimento.