Anna Karina, mais conhecida pelos papéis nos filmes do diretor francês Jean-Luc Godard — e uma das figuras mais notórias do Nouvelle Vague —, morreu no último sábado, 14, em Paris, por causa de um câncer não especificado, aos 79 anos. A informação foi confirmada neste domingo (15/12/2019) pelo seu agente à AFP.
Francesa de origem dinamarquesa, a intérprete de rosto pálido e grandes olhos azulados filmou ao todo sete filmes com Godard, que foi parceiro durante quase toda a década de 1960. Ela também fez carreira no mundo da música, triunfando ao lado do lendário Serge Gainsbourg.“Ela era uma artista livre e única”, disse o seu agente Laurent Balandras. O marido da atriz, o diretor americano Dennis Berry, estava com ela na hora da morte, informou Balandras. A Cinemateca Francesa expressou “imensa tristeza” no Twitter. O mesmo fez Franck Riester, ministro da Cultura da França.
“Seu olhar era o da Nouvelle Vague. Isso permanecerá assim para sempre. Especialmente em Godard, mas também em Rivette ou Visconti, Anna Karina irradiava; magnetizou o mundo inteiro. Hoje, o cinema francês ficou órfão. Ele perde uma de suas lendas”, escreveu o ministro.
Desde a infância na Dinamarca, quando Anna vivia entre uma mãe ausente, uma avó que faleceu prematuramente e um avô pelo qual tinha um profundo sentimento de carinho, ela manteve personalidade frágil e delicada.
Quando jovem, ela viajou de carona até Paris com a ideia de se tornar atriz. Uma vez na capital francesa, ela rapidamente começou uma carreira de modelo. Nas mãos de Coco Chanel, a jovem deixou de ser Hanne Karin Bayer e passou a ser Anna Karina.
Ela foi descoberta em um anúncio pelo próprio Godard, que a propôs um papel em A Bout de Souffle, com Jean Seberg e Jean-Paul Belmondo, que ela prontamente rejeitou.
O cineasta tornou a chamá-la alguns meses depois para ser a protagonista de O Pequeno Soldado, um filme que falava sobre a guerra da Argélia. No set da produção, começou a surgir um romance entre os dois, que durou por vários anos.
Juntos, eles filmaram sete filmes, entre os quais destacam-se Uma Mulher é Mulher (que rendeu o prêmio de melhor performance no Festival de Berlim em 1962), Viva Sua Vida e Pierrot, O Louco, este último com Jean-Paul Belmondo.
Em entrevista à AFP, em 2018, a atriz falou sobre o relacionamento com Godard. “Nós nos amávamos muito. Mas era difícil morar com ele”, admitiu. “Era alguém que poderia dizer ‘vou pegar um cigarro’ e voltar depois de três semanas. Era uma época em que não havia smartphone, nem secretárias eletrônicas”.
O relacionamento deles foi marcado por um drama, a perda de um filho que ela estava carregando. A última vez que esse casal mítico se viu foi há mais de 20 anos. Desde então, não houve contato. “Ele está na Suíça e não abre a porta”, disse Anna. “Não, não estou triste. Afinal, é a vida dele.”
Por uma década, Anna Karina continuou a atuar em outros filmes, embora, sempre foi vista como a esposa de Godard. Ela trabalhou com Jacques Rivette (La Religiosa, 1966), mas não passou por Chabrol ou Truffaut, os outros diretores da Nouvelle Vague. “Era a esposa de Jean-Luc. Isso certamente lhes dava um pouco de medo”, explicou Rivette mais tarde.
Em 1973, Anna dirigiu o primeiro filme, Vivre Ensemble, uma história de amor que fala sobre drogas e álcool. “É um retrato da minha juventude. Vi muitas pessoas ao meu redor afundar e morrer”, explicou.
Depois de Godard, Karina casou-se sucessivamente com os cineastas Pierre Fabre e Daniel Duval e, em 1982, com o americano Dennis Berry. Como cantora, ela lançou Sous Le Soleil Exactement, grande sucesso de 1967 gravado em parceria com Serge Gainsbourg e que serviu como trilha sonora para o musical Anna, de Pierre Koralnik, do qual foi protagonista.