Sem compromissos na agenda, o presidente Jair Bolsonaro deixou o Palácio do Planalto na tarde desta quarta-feira (4) para comer pastel em uma feira de comércio popular em Brasília.
Bolsonaro foi à Feira dos Importados, a 14 quilômetros do Planalto, acompanhado do ministro Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), responsável pela articulação política.
O passeio acontece em meio a dificuldades do governo em aprovar projetos de sua autoria no Congresso e no dia da semana de maior atividade no Poder Legislativo. Deputados e senadores são críticos da articulação política do atual governo.
Na terça (3), uma medida provisória enviada pelo Executivo aos parlamentares caducou por falta de apoio para ser convertida em projeto de lei dentro do tempo hábil. Perdeu efeito a MP 892, que desobrigava empresas de publicarem suas demonstrações financeiras no Diário Oficial e em jornais de grande circulação.
O Planalto enfrenta ainda resistência por parte do Congresso para ver avançar outras reformas, como a tributária, e medidas como o projeto batizado de carteira verde e amarela, que prevê mudanças na legislação trabalhista.
Ao caminhar pela feira, Bolsonaro foi recebido por apoiadores com gritos de "mito", "ele sim", "Lula preso" e foi abordado para tirar selfies. O presidente chegou por volta de 15h30 e passou menos de meia hora no local.
Foi a um dos quiosques da feira popular, que vende produtos importados, e comeu dois pastéis de queijo e bebeu um refrigerante. A refeição custou R$ 23,50 e foi paga em dinheiro por um assessor. Em um local cheio de quiosques que vendem desde eletrônicos até roupas e brinquedos, não fez qualquer compra além da comida.
Bolsonaro disse ter ido à feira comer pastel para repetir um velho hábito que tinha antes ser eleito presidente.
"Vinha muito. No ano passado, se eu não me engano, eu não vim aqui nenhuma vez, mas no anterior eu vim muitas vezes", disse. Ele contou ter comido pasteis de queijo. "Estava muito bom."
Em menor intensidade que os gritos de apoio, o presidente também foi recebido por críticas dispersas, sendo chamado de "miliciano", além de gritos de "Lula livre" e pedidos para que ele baixasse o preço da carne. Um dos presentes pediu até emprego para Bolsonaro, que pareceu não ter ouvido o apelo.
"Eu senti como que está a população, né? No tocante ao governo em si. Tive informações na questão econômica que o número de pessoas vindo aqui é muito grande. É sinal de que a economia está reagindo e sentimos o povo aqui, em relação a críticas ou elogios. Graças a Deus não teve crítica nenhuma", disse, apesar de ter havido alguns gritos contrários isolados.
O compromisso não constava na agenda do presidente, que teve registrada apenas uma reunião pela manhã com o ministro da Educação, Abraham Weintraub.
"Hoje não estava previsto agenda para mim porque eu estaria no Rio Grande do Sul. Então criei uma agenda de manhã e esta agora não houve nada, deu para sair, e tenho despacho com a SAJ [subchefia de assuntos jurídicos] agora no Alvorada", justificou.
Inicialmente, Bolsonaro viajaria nesta quarta-feira para Bento Gonçalves (RS), onde participará da cúpula do Mercosul. A viagem foi transferida para a manhã desta quinta (5).
Questionado sobre o que levará para o encontro, onde estarão chefes de Estado da Argentina, Paraguai e Uruguai, Bolsonaro não deu detalhes.
"Amanhã é… tem questões… o que a gente vai tratar amanhã… assuntos de comum interesse a todos nós. Devemos assinar um acordo automotivo com o Paraguai. Outras propostas estamos ultimando. Queremos anunciar amanhã sem dar exclusividade para ninguém", disse.
A cúpula acontece em meio a mudanças políticas na América Latina, em especial com a eleição de Alberto Fernández na Argentina, a quem Bolsonaro é crítico.
Bolsonaro se reuniu na noite de terça-feira (3) com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e disse ter tratado de projeto de lei que prevê mudanças no Código de Trânsito como a validade da CNH (Carteira Nacional de Habilitação) e número máximo de pontos permitidos aos motoristas.
Questionado sobre se não temia que outras MPs do governo perdessem validade, como a carteira verde e amarela, o presidente minimizou. "Se caducar, caducou. Vocês conhecem o Parlamento, não é matemático o Parlamento."