Não contavam com a astúcia de Fernando Souza da Fonseca. Desde que, quase por acaso, vestiu a fantasia de Chapolin Rubro-Negro, ele ganhou poderes para cunhar a frase "Hoje tem gol de Gabigol" e virou figurinha carimbada na turma da mureta do Maracanã, em desembarques de reforços do time em dias úteis e eventos organizados por mulheres de jogadores.
Aos 42 anos, o auxiliar de entregador é um herói da vida real. Para completar o orçamento apertado, o personagem saiu da arquibancada para o dia a dia. Quem quiser, pode contratar o Chapolin para eventos.
– A ideia surgiu numa festa de aniversário de 15 anos. Comprei para ir, tinham várias fantasias do pirata, bombeiro, fui passando, aí vi a última do Chapolin, e comprei – revelou Fernando.
A festa, claro, era à fantasia.
A estreia como Chapolin em estádio foi em setembro de 2012, no Nilton Santos. Vitória por 2 a 1 sobre o Atlético-MG. O jogo marcou o reencontro de Ronaldinho Gaúcho com o Rubro-Negro. As vaias e faixas contra o ex-camisa 10 da Gávea ofuscaram a primeira vez do herói.
– Nunca pensei em usar a fantasia para jogo, mas via os caras fantasiados de Pânico, Mister M do Vasco, tinha aquele antigo, o Beijoqueiro Tricolor. Um dia botei e comecei a ir.
No Maracanã, todos os movimentos de Chapolin foram friamente calculados. Se colocou nas cadeiras próximas ao campo e às câmeras. Logo fez amizade com fotógrafos, repórteres, cinegrafistas e seguranças do clube.
Até que as anteninhas detectaram – não a presença do inimigo – mas a frase: “Hoje tem gol do Gabigol”. Surgiu por acaso, num bate-papo com amigo.
A estreia da placa que virou meme foi na vitória por 4 a 0 sobre a Cabofriense no Campeonato Carioca. Teve gol de Arão, Diego, Arrascaeta e Bruno Henrique. Não teve gol do Gabigol, que entrou durante a partida.
Chapolin conheceu Gabigol no estacionamento do Maracanã. O atacante prometeu pegar a placa e cumpriu num Fla-Flu, quando pegou o pedaço de papelão. E depois contra o Emelec, pela Libertadores.
– A torcida me abraçou, crianças, adultos, todos tirando foto. Sou criador da frase que gerou para o mundo inteiro, todo mundo conhece e fala – vibra.
Mas ele suspeitou desde o princípio que o Chapolin Rubro-Negro poderia render um troco a mais.
– Faço festas, eventos, as mulheres do Everton Ribeiro, do Diego me chamam para participar, me ajudam pra caramba.
Folheto de propaganda do Chapolin tem número de telefone para falar com a Nadia, sua "agente" — Foto: Reprodução
Chapolin ainda sonha ganhar uma camisa de Gabigol. Na vida real, passou sufoco em meio a uma briga fora do estádio. Um policial fez as vezes de herói, e colocou Chapolin dentro da viatura para evitar a situação que era de risco.
Fernando segue na correria do dia a dia e, como todo fã do personagem imortalizado pelo ator Roberto Bolaños, é da turma do vale a pena ver de novo.
– Morro de rir com os episódios. Vejo até mais o Chaves, umas 100 vezes. Minha mãe pergunta se não canso de ver toda hora a mesma coisa.