Praticar atividades físicas é o que Talita Alves Bezerra, de 28 anos, mais gosta de fazer. Ela tem síndrome de Down e se formou no curso de bacharelado em educação física, na Paraíba. Em um desfile beneficente, que aconteceu na última quinta-feira (24), ela usou o vestido de formatura da conclusão da 3ª série do ensino médio. A peça foi doada por ela para ser vendida e ajudar a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE), em Campina Grande.
Talita esbanjou carisma e desfilou duas vezes. O sorriso estampado de orelha a orelha não significava apenas felicidade para ela. A jovem aproveitou os momentos que ficou na passarela para celebrar e compartilhar a sensação de vitória por ter concluído o curso superior na área que ela mais se identifica.
A profissional de Educação Física sempre mostrou aptidão para a dança. Simpática e extrovertida, ela contou sobre as experiências que coleciona. “Eu gosto de dançar balé, dança de salão e do ventre”.
A formatura em um curso superior foi uma grande conquista, mas a mãe dela, Iraquitania Alves Bezerra, de 58 anos, confessa que o caminho percorrido pelas duas sempre esteve cheio de obstáculos.
“Foi uma luta vencida ao longo dos anos. Tive que renunciar muita coisa por causa das dificuldades dela. Mas ela foi vencendo barreira por barreira”.
Iraquitania é psicóloga e trabalha na APAE de Campina Grande há 20 anos, local onde Talita iniciou um tratamento no setor clínico quando ainda era criança. Atualmente, mãe e filha moram em Patos, no Sertão do estado, onde a jovem cursa a Licenciatura em Educação Física em uma faculdade particular, a segunda graduação dela.
A justificativa para investir na licenciatura, Talita tem na ponta da língua.
“Quero ser professora de dança da APAE”, afirmou.
A mãe da jovem explicou que elas optaram por uma faculdade particular para que ela pudesse acompanhar de perto o desenvolvimento da filha. “A gente ouve falar em inclusão, mas na realidade ela ainda não acontece como deveria. Estando perto dela eu posso ajudar diretamente”, justificou.
Além da dança, Talita participa de modalidades esportivas como natação e judô. As atividades não ajudaram apenas no desenvolvimento da jovem, mas na autoestima também.
“Eu estou muito feliz e realizada”, reforçou.
Estudantes surdos apresentam número de dança em desfile
Talento não faltou na 5ª edição do “Apae Fashion Day”. Alunos surdos da Escola de Áudio-Comunicação de Campina Grande (EDAC) apresentaram um número de dança, que fez todo o público se entregar ao ritmo da cantora paraense, Joelma.
A maioria das pessoas se conecta com a música pela audição. Embora ouçam parcialmente, Ana Beatriz dos Santos, de 16 anos, e José Welbee de Melo, de 22 anos, reúnem todos os sentidos para sentir as canções que dançam. Os dois se conheceram na escola e compartilham o amor pela dança, atividade que querem seguir profissionalmente.
A conversa com a dupla aconteceu através da Língua Brasileira de Sinais (Libras). A professora Heloísa Galdino Barbosa, de 24 anos, ajudou na tradução da Língua Portuguesa. Os estudantes contaram que amaram participar do evento e que gostariam de ter oportunidades semelhantes em outros locais. Mas as portas nem sempre se abrem para eles.
Ana Beatriz é um orgulho para a mãe dela. Valdevânia Carneiro Santos, de 50 anos, também é surda. Ela também dançava quando era jovem e confessou ter ficado emocionada ao ver a primeira apresentação da filha e o filho Arthur dos Santos, de 13 anos, desfilando.
Heloísa ficou encantada com a desenvoltura dos alunos. Para ela, o momento foi muito proveitoso. Ela acredita que a inclusão e a interação são peças fundamentais para o desenvolvimento dos alunos com quem construiu uma relação de admiração.