Um grupo de jovens, uma manhã ensolarada de domingo e praia. Essa parece ser a combinação perfeita para uma música de pagode ou simplesmente para aproveitar o dia, mas Rhuana Chianca, de 20 anos, e os amigos decidiram ir além. Eles criaram o “Coletivo Diqueline” e utilizam ocasiões como essa para realizar mutirões, ações de conscientização e gincanas de coleta de lixo na praia de Miramar, no município de Cabedelo, situado na Grande João Pessoa.
O local, conhecido como “Dique de Cabedelo”, marca o encontro entre o Rio Paraíba e o mar. Localizado próximo ao porto, serve como ponto para pesca, prática de esportes aquáticos e cenário para ensaios fotográficos.
Segundo Rhuana, estudante do curso de ciências biológicas do Instituto Federal da Paraíba (IFPB), foi essa importância ambiental, histórica e econômica do dique que fez com que os amigos decidissem começar o projeto.
“O dique está se tornando uma fonte de descarte de poluentes, encontrados pelo rio e pela costa da praia. Ultimamente tem crescido o turismo no local, aumentando ainda mais os poluentes, sendo agravado até para uma poluição sonora, a partir de paredões, que prejudicam os botos, por exemplo, que são sensíveis”, explicou.
Onda de conscientização
A estudante contou que o nome “Diqueline” foi inspirado nas ondas que se formam na região e parecem, inicialmente, com linhas no horizonte. A ideia para o projeto surgiu a partir de uma conversa entre os amigos e, em agosto de 2018, foi realizado o primeiro mutirão.
“O nosso coletivo é totalmente colaborativo. Conforme os amigos começaram a chegar, montamos uma equipe para captar o necessário para nossas ações e com o movimento dos mutirões fomos atraindo mais pessoas”, disse.
Contagiados pela iniciativa, microempresários, donos de bares da região, feirantes e proprietários de depósitos começaram a ajudar com doações de frutas, para as saladas que são servidas durante os mutirões, e água para os participantes.
De acordo com Rhuana, quando o grupo decidiu realizar uma gincana de limpeza, conseguiu arrecadar R$ 200, duas caixas de cerveja e um peru, que serviram como premiação para os vencedores.
Por meio de ações descontraídas, o coletivo busca não somente limpar a praia, como comentado por Rhuana, mas conscientizar a população sobre a importância de preservar o dique. As ações acontecem, geralmente, a cada bimestre, são marcadas pelo grupo e divulgadas por meio de redes sociais.
“Sempre fornecemos água, salada de frutas, sacolas e luvas nestes eventos, tudo isso para incentivar a participação de toda a população. Esperamos, para o futuro do dique, um local preservado ambientalmente, uma grande fiscalização ambiental, com controle dos poluentes”, pontuou.
Com a ajuda de uma empresa que desenvolve móveis com conceito sustentável, o grupo reaproveita resíduos, como paletes e pneus, para construir placas e lixeiras que são instaladas no local.
Formado por pelo menos 11 jovens, o coletivo é organizado em grupos funcionais, como marcenaria, divulgação e captação, responsáveis por organizar as ações, que, segundo Rhuana, têm uma boa receptividade.
“Cabedelo é uma cidade bem pequena. Todo mundo se conhece. Mas a interação foi bem variada. Quase todos já se conheciam, seja de escola, festa, faculdade ou projetos sociais”, afirmou Rhuana.
Segundo o biólogo Petrúcio Medeiros, de 53 anos, que conheceu o projeto durante uma reunião, a iniciativa chamou atenção por unir pessoas de diferentes bairros da cidade em torno de uma mesma causa.
“Aí foi que realmente compreendi o engajamento, a consciência e a preocupação desses jovens em relação ao espaço urbano no qual vivemos, pois se propuseram, em um dia que poderia ser de lazer, ir para praia coletar lixo pelo bem da coletividade, sem receber nada em troca”, disse.
Para ele, que trabalha no IFPB, a proposta do grupo pode contrabalancear a interferência humana no meio ambiente. “Acredito que se esse exemplo for mantido e replicado podemos contribuir muito para mantermos nossas praias limpas, com belos aspectos naturais destacados”, afirmou.
‘Trabalho de formiguinha’
Rhuana explicou que o coletivo surgiu a partir da necessidade, observada pelos jovens, de um movimento social que trouxesse à tona os problemas da região e que buscasse as melhores formas de solucioná-los.
“É um trabalho demorado, de formiguinha, como dizem, mas temos disposição e fazemos de bom grado. Embora já tenhamos conquistado muitos adeptos, ainda temos um longo caminho para seguir e muita gente pra conscientizar”, destacou.
João Pessoa
Na capital paraibana, uma faculdade particular desenvolve o projeto “Pessoa Limpa Ama João Pessoa” que, com a participação de estudantes, professores e voluntários da comunidade, recolhe lixo em pontos considerados estratégicos da cidade.
A segunda edição aconteceu no dia 20 de julho, no Parque da Lagoa, situado no Centro. Os voluntários, que precisavam ser maiores de idade, foram cadastrados por meio de um formulário, disponibilizado nas redes sociais da Pitágoras.
De acordo com o professor Sérgio Ferreira, o projeto não tem a simples intenção de limpar, mas também de educar a população. Para ele, a falta de orientação contribui para um descaso em relação à preservação e sustentabilidade do ambiente urbano.