Mateus Henrique Leroy Alves, de 37 anos, suspeito de usar as doações para tratamento do filho doente em passeio, cerca de R$ 600 mil, também pode estar envolvido em um esquema de gerenciamento de garotas de programa.
De acordo com a Polícia Civil, Mateus teria gastado parte do dinheiro arrecadado para o tratamento do filho que tem atrofia muscular espinhal (AME).
Com autorização da Justiça, a Polícia Civil gravou conversas por telefone entre Mateus e uma mulher.
Mulher: e cê confia, Mateus?
Mateus: de olho fechado.
Mulher: tá bom então.
Mateus: são meninas que já ‘trabalhou’ na minha casa lá de [Conselheiro] Lafaiete, de Belo Horizonte.
Só que os planos de Mateus não deram certo. Nessa semana ele foi preso no quarto onde estava hospedado em Salvador e trazido para Minas Gerais.
Com ele, a polícia encontrou perfumes caros, relógios e roupas de marca, algumas delas ainda com a etiqueta. Todas compradas com o dinheiro para o tratamento do filho.
“Ele fala que gastou cerca de R$ 600 mil, ele efetivamente gastou sendo que R$ 300 mil foram gastos com farra com mulheres, com bebidas e com drogas, e no momento da prisão dele, inclusive, ele estava com porções de maconha e o restante do dinheiro ele alega que estava sendo extorquido”, disse o delegado Daniel Gomes.
A vida de ostentação dele começou em Minas Gerais. Os investigadores descobriram que durante nove dias de maio ele ficou hospedado em um motel, em Belo Horizonte.
Foi na suíte mais luxuosa, com adega com vinho importado, frigobar, espaço gourmet, jukebox, TV a cabo. Tem até barra de polidance, banheira de hidromassagem e luz especial. Só no motel, Mateus gastou mais de R$ 7 mil.
O dinheiro seria usado para comprar um medicamento caro – cada dose custa cerca de R$ 360 mil. O menino precisa de pelo menos seis.
O apelo comoveu os moradores de Conselheiro Lafaiete (MG) onde a família mora. Em quase um ano, mais de R$ 1 milhão foram arrecadados e era com esse dinheiro que Mateus esbanjava.
“Ele, ele, a história que ele me contou parece que é a mesma que ele já contou para o delegado, que ele foi na verdade, extorquido, né? Quando ele foi para Belo Horizonte fazer um curso de segurança. Um curso interessante porque parece que foi a própria irmã que pagou o curso para ele, ele foi fazer o curso e nesse curso ele conheceu uma pessoa que o levou até uma boca de fumo. Nessa boca ele comprou droga, numa conversa lá ele pensou em fazer uma sociedade com um traficante e esse traficante então, talvez não sei se já sabia ou investigou um pouco sobre o Mateus, descobriu sobre a campanha, dos valores da campanha e em cima disso começou a extorquir o Mateus”, disse o advogado Túlio César de Melo Silva.
Em Conselheiro Lafaiete, a atitude do pai que parecia ser amoroso e preocupado com o filho doente foi motivo de espanto e revolta.
“Como que ele rouba o dinheiro do próprio filho que está doente”, questionou a vendedora ambulante Aparecida de Souza.
“Todo mundo ficou sem entender o por quê. Porque ele ajudou nas campanhas também. A gente também ajudou, doando o que a gente, tirando da gente pra poder doar, né”, questionou a dona de casa Josiane Soares.
A Polícia Civil também se mobilizou, nós fizemos uma corrida pela vida aqui, em Conselheiro Lafaiete, com mais de 500 inscritos para arrecadar fundos e todos nós hoje polícia, família, todos nós nos sentimos traídos pela conduta desse cidadão”, explicou o delegado Carlos Capistrano.
Nas redes sociais, artistas e jogadores também pediram ajuda para campanha. O goleiro Victor, do Atlético-MG, doou uma camisa para ser leiloada. É um sentimento de qualquer um, um sentimento de revolta, de tristeza, de lamentação e por saber que o ser humano. A capacidade que ponto chega a maldade, a falta de amor no coração do ser humano, então realmente é algo que quando eu recebi a notícia foi algo muito chocante, foi algo bastante frustrante, foi algo… triste, mas felizmente foi descoberto aí e tenho certeza que vai pagar por isso”.
A família deixou de fazer a campanha desde junho, quando conseguiu na Justiça o direito de receber do Sistema Único de Saúde (SUS) três doses do medicamento.
Com o dinheiro que estava na conta, a compra das outras três doses que ele precisa estavam garantidas, mas, agora, a situação é outra.
“A causa é nobre, a campanha deve continuar em prol do João Miguel e da mãe dele deve continuar, eu acredito, que o único que deve ser responsabilizado com essa história toda é apenas o pai que cometeu essa atitude criminosa. O menino não deve ser responsabilizado pelo contrário acredito que seja o momento até de ganhar força para que ele consiga o tratamento e consiga continuar sobrevivendo”, falou Daniel Gomes.