O paratleta paraibano Rômulo Martins ganhou mais um título em sua vitoriosa carreira neste fim de semana. Ao disputar o Campeonato Brasileiro de Jiu-Jitsu Paradesportivo em Florianópolis (SC), Rômulo se tornou bicampeão nacional de sua categoria de paralisia cerebral, erguendo mais uma vez a bandeira da Paraíba no pódio mais alto.
Em abril deste ano, Rômulo Martins, aos 41 anos, havia se tornado também o primeiro paratleta paraibano bicampeão mundial de parajiu-jitsu em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes. Atualmente, o paraibano acumula os principais títulos da categoria: além de bicampeão brasileiro, é ainda o atual campeão sulamericano e também do Grand Slam.
Na defesa do título nacional em Florianópolis deste final de semana, Rômulo, que é faixa marrom de jiu-jitsu, venceu o faixa preta do Espírito Santo, Wesley, e, na grande final, enfrentou o paratleta Fernando Fernandes, da Federação Paulista de Jiu-jitsu, vencendo por pontos.
Força sobrenatural — “Considero a luta da grande final, contra o paulista, a mais difícil da minha vida como paradesportivo. O meu adversário, além de muito forte, tinha uma técnica refinada. A luta de cinco minutos parecia uma eternidade, pois precisei buscar força, resistência e fôlego que pareciam esgotados. Não tenho como explicar, foi algo sobrenatural, pois, humanamente, não tinha como derrotá-lo. Foi mais difícil que até mesmo a luta da final do Mundial deste ano, quando me tornei bicampeão. Sentir que quem me deu forças foi o próprio Senhor, por isso glorifiquei tanto a Jesus ao ganhar a luta”, detalha a conquista Rômulo, que começou a competir há pouco mais de três anos na modalidade.
O Campeonato Brasileiro de Jiu-Jitsu Paradesportivo em Florianópolis (SC), que reuniu 117 atletas com deficiências física, intelectual e visual de todos os estados brasileiros, teve cerca de 250 lutas nas diversas deficiências e portes.
Para disputar o campeonato brasileiro deste final de semana, Rômulo contou com apoio da Cidade Viva e ajuda financeira das empresas SL Alimentos, Softcom Tecnologia e Mega Control. “Agradeço a Deus, o apoio da minha querida igreja Cidade Viva e a cada uma dessas empresas que foram sensíveis e generosas em me dar apoio financeiro para disputar o campeonato brasileiro”, declarou Rômulo, que é membro da Cidade Viva Zona Sul, no bairro Valentina Figueiredo, em João Pessoa, onde desenvolve projeto social de jiu-jitsu.
Atleta nasceu com paralisia cerebral — Rômulo nasceu com paralisia cerebral e teve movimentos dos membros superiores, inferiores e de fala comprometidos. Devido à paralisia, ele só conseguiu falar aos sete anos de idade e andar aos oito. Em sua infância e adolescência, superou inúmeros preconceitos e bullying na escola. Mesmo com a deficiência, terminou o ensino médio e aos 21 anos prestou concurso público nos municípios de João Pessoa, Bayeux, Santa Rita e Conde, sendo aprovado em todos. Escolheu para servir na Prefeitura da Capital, concurso que passou em 1º lugar nas vagas destinadas aos não deficientes. “Quis provar para mim mesmo que era capaz de superar meus próprios limites e desafios”, justificou Rômulo, quando optou fazer concurso para não deficientes.
Ministério de Jiu-Jitsu da Cidade Viva — Como exemplo de superação, Rômulo Martins resolveu usar também as suas conquistas no jiu-jitsu para incentivar outras crianças e adolescentes portadores ou não de necessidades especiais dos bairros da Zona Sul de João Pessoa para praticar a arte marcial. A unidade da Cidade Viva Zona Sul, no bairro de Valentina Figueiredo, montou uma estrutura desde o final do ano passado para desenvolver o Ministério de Jiu-Jitsu. Rômulo é o instrutor de dezenas de alunos da comunidade. Durante as aulas, o bicampeão mundial e, agora também, bicampeão brasileiro, tem transmitido não apenas a experiência vitoriosa de sua carreira e a técnica da arte marcial às crianças e adolescentes, mas o caminho para superar os inúmeros obstáculos da vida de um portador de deficiência.
“As aulas vão para além da luta corpo a corpo, pois tenho trabalhado disciplina e os valores cristãos para resgatar a estima de muitos adolescentes portadores ou não de deficiência da comunidade da Zona Sul”, destacou.