Rio de Janeiro, Brasil
Eram 22 minutos do segundo tempo.
O Brasil vencia por 2 a 1.
O Peru buscava o empate.
O clima estava tenso.
As divididas mais pesadas.
Tite repara que um jogador brasileiro está mais irritado do que os demais.
"Calma, Gabriel, calma", gritou o treinador do banco de reservas.
Mas, diante da reação do atacante, parecia que ele havia pediido: "Briga, Gabriel, briga."
Porque dois minutos depois, o atacante brasileiro entra muito forte na dividida com Zambrano. O peruano cai estatelado no chão. Gabriel Jesus toma o segundo amarelo e vê o cartão vermelho. Deixa o Brasil com um a menos, em uma final, por 27 minutos.
A reação de Gabriel Jesus é assustadora.
Ele discute com o árbitro chileno Roberto Tobar. Pede que reconsidere a expulsão. Quando percebe que não haverá volta, fica histérico. Começa a xingar, empurrar quem chega perto. Chuta uma garrafa d’água que estava à beira do banco do Brasil.
Não aceita que o preparador físico Fabio Mahseredjian chegue perto. Empurra seguranças. Soca a cabine do VAR. Quase derruba um totem com o emblema da Conmebol.
Faz o sinal de ‘roubo’ com as mãos para os torcedores.
Não se importa que esteja sendo filmado.
Depois senta na escada que dá acesso ao vestiário e chora como uma criança.
"Vou ser chato, repetir e pedir desculpas para as pessoas que estavam ali perto, para as crianças que assistiram. Um momento de raiva, né. Mistura raiva, emoção e sentimento. Raiva da parte, no meu ponto de vista, de ser expulso. Sequer falta no lance foi.
"Eu tenho de pedir desculpa, poderia ter ferido alguém, ainda bem que não feriu ninguém, estava chateado. Acabei extrapolando, muita vontade de ajudar minha equipe. Momento em que poderia prejudicar.
"Estávamos ganhando, fazendo bom jogo. Juiz acaba errando. Não quero julgar ele, mas que ele pegue os lances e evolua. Assim como eu preciso evoluir também."
Expulsão infantil, time exposto à derrota, desabafo, pedido de desculpas.
Essa é uma triste rotina na Seleção Brasileira.
E que deve continuar.
Na reformulação na Comissão Técnica, com a saída do coordenador de Seleções, Edu Gaspar, do auxiliar Silvinho e do analista de sistema Fernando Lázaro, propiciaria a contratação de um profissional fundamental no esporte moderno.
Um psicólogo esportivo,.
Alguém para condicionar os jogadores para momentos de tensão, como o de ontem, a final da Copa América, em casa, com a obrigação de vitória, diante de um adversário que havia sido batido por 5 a 0.
Mas Tite outra vez repetirá o que Felipão, Mano Menezes e Dunga tentaram, mas esbarraram na intransigência dos jogadores.
"Eu não sou louco, não preciso de psicólogo", essa é a resposta que Neymar, o líder dessa geração vem repetindo desde o segundo semestre de 2010, quando passou a ser convocado.
Não é só Neymar, os jogadores não querem um profissional que possa fortalecê-los psicologicamente, emocionalmente.
"Os atletas não querem e eu acredito que há sempre pouco tempo de convivência para que haja uma relação profunda entre o profissional e os jogadores. Eu e a minha Comissão Técnica usamos nossa experiência para preparar o time também neste aspecto", diz Tite.
Na NBA, no rugbi, n time norte-americano de ginástica, de atletismo, de natação, a presença de um psicólogo esportivo é essencial.
Mas essa é uma batalha perdida.
Neymar é o primeiro e maior obstáculo.
Ele e seus companheiros temem que seus segredos mais íntimos, seus medos, suas frustrações, suas fraquezas sejam um dia expostas pelo eventual psicólogo.
E a Seleção Brasileira seguirá igual.
Aprimorando a estratégia, o preparo físico, fazendo as mais modernas análises de desempenho por computador. Dissecando o adversário através de gráfiicos, vídeos, hologramas.
Mas seguirá tratando o lado psicológico de forma amadora.
Com Tite, formado em Educação Física, exercendo a função de psicólogo.
Ele seguirá dando o seu melhor, sua experiência de mais de 40 anos de futebol.
Mas será algo instintivo, sem método, sem estudo.
O futebol pentacampeão do mundo precisa se modernizar, quebrar este último tabu.
Ou o planejamento de anos estará sempre sujeito a derrotas que começam com o lado psicológico.
Ou alguém se esqueceu que o Brasil se desmanchou emocionalmente ao tomar os gols da Bélgica na Copa da Rússia?
Ou ninguém percebe os chiliques de Neymar?
E por quê Gabriel Jesus não atendeu Tite, dois minutos antes da expulsão?
Se fosse um time melhor que o Peru, talvez a Copa América tivesse escapado.
A situação é séria.
Passou da hora do Brasil aceitar a psicologia esportiva.
Mesmo não tendo nenhum ‘louco’ na Seleção…